Nas redes sociais, programas de TV, jornais e comércio podemos perceber que há homenagens e não há homenagens sobre o dia Internacional da Mulher. Na maioria dos casos encontramos mensagens e felicitações que evidenciam, ainda que sorrateiramente, o machismo e o quinhão do capitalismo. Por outro lado, ainda temos (sem muito apoio da mídia) as homenagens que reconhecem a necessidade e atualidade da luta das mulheres por igualdade de direitos sociais e trabalhistas - símbolo maior e real deste dia histórico.
“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.”
Rosa Luxemburgo (1871-1919)
Entre as desomenagens que recebi junto com outras mulheres (aqui uma), um lindo poema escrito por Everton Silva retirou o peso de tantas palavras que apenas refletem uma gratidão e reconhecimento às mulheres sob uma ótica patriarcal e machista. Neste sentido, por exemplo, o valor das mulheres está relacionado ao que elas 'são/podem' oferecer aos homens e a família (trabalho doméstico, filhos, etc), relaciona ao conceito de 'sexo frágil' - ainda que mascarado de 'sensibilidade feminina', nos colocam como produtos e como se receber jantar, flores, chocolates representassem uma mudança nas ações que impactam e limitam nossas vidas todos os dias (assédio, violência doméstica, feminicídio, salários menores, dupla jornada de trabalho, dupla opressão contra as mulheres lésbicas e trans, etc).
As desomenagens escondem o sentido verdadeiro do 8 de Março e o que nós mulheres de fato somos e queremos. Escondem as ações que precisamos receber todos os dias: Flores de igualdade social entre os gêneros e chocolates de respeito.
Diante dessa realidade que grita e das desomenagens que, apesar de tudo, não conseguem deixá-la muda, Everton Silva compôs "Sobre os 365 oito de março que temos por ano":
Entrevista com o autor: - Voz em Rede: Everton, qual foi sua inspiração para compor esse poema? - Everton Silva: Passei o dia lendo poemas, mensagens, coisas lindas e 'mimizentas' em homenagem. Tudo se passava de forma totalmente deturpada. Minha composição foi apenas uma leve revolta, com o olhar da sociedade. Que vê apenas esse dia como sendo o dia da mulher, mantendo de certa forma o patriarcado, escondendo nos versos bonitos toda luta, toda estatística de crimes contra a mulher... O que posso fazer é intervir na sociedade com as poucas palavras que tenho. - Voz em Rede: Quem é Everton Silva? - Everton Silva: Então me perguntam o que faço da vida, respondo de imediato, sem pensar duas vezes: no tempo que me sobra curso engenharia, no todo que me resta sou inteiro poesia. E não tenho dúvida que me resta todo tempo do mundo. Se me perguntarem o que penso em ser na vida, pois tudo que faço dela - nela - é o pincelar do meu destino. Novamente, sem desatino direi: serei poeta, calcularei a métrica - engenharia dos versos - serei repleto, terno e inteiro poesia. E não tenho dúvida que me resta uma construção de versos para toda a vida, afinal, faz parte ser poeta um revolucionário comunista. *Everton Silva, também é compositor e cantor na Banda Seu Arlindo. * Acompanhe Everton Silva: Facebook | SoundCloud Acompanhe a Banda Seu Arlindo: Facebook | SoundCloud Acompanhe as redes sociais do Blog Voz em Rede: Facebook | Twitter | G+Hoje te colhem flores, versos bonitos e doces. amanhã te regam insultos, discriminação, desvalorização.
uma vez por ano tentam te elevar a estima, mas a cada cinco minutos uma semelhante a ti é agredida.
Oito de março - a sociedade preguiçosa abre os olhos atenta de ouvidos atinados a uma luta de tantos oito de março.
Mulher, não importa tua cor, teu corpo pra mim é templo é seu e dele tu faz o que quer.
Mulher, não tem que ser linda pra tantos, basta ser linda pra si. mas claro, será linda em todo tempo em qualquer canto.
Mulher, teu lugar é onde quiseres. pois nada causa mais horror aos poderosos do que mulheres que lutam e sonham.
Moça, lembre-se: O patriarcado é fichinha perto de um sorriso teu.
(Everton Silva. Sobre os 365 oito de março que temos por ano. 08 de Março de 2015)