Escola recebeu apoio da Guiné Equatorial que, segundo Anistia Internacional, acumula extensa lista de denúncias de violações a direitos humanos
Por Redação
A escola de samba Beija Flor foi eleita campeã do Carnaval do Rio de Janeiro. O título vem após o polêmico patrocínio da agremiação, que teria recebido R$ 10 milhões do presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema.
A escola levou à Sapucaí um enredo que homenageia o país africano governado por Obiang há 35 anos. Segundo a Anistia Internacional, Guiné possui uma extensa lista de denúncias de violações de direitos humanos, como torturas, execuções, prisões arbitrárias e repressão violenta a protestos.
Enquanto Obiang seria o oitavo líder mais rico do mundo, de acordo com revista Forbes, com uma fortuna avaliada em US$ 600 milhões, a população é uma das mais pobres do continente africano.
À BBC, o assessor de direitos humanos da Anistia Internacional, Mauricio Santoro, disse que “Obiang vem há muitos anos ao Carnaval do Rio de Janeiro, e tem inclusive um apartamento de luxo na cidade”.
Santoro afirmou também que o presidente da Guiné representa o "estereótipo tradicional" do ditador africano: à frente de “um regime fechado, extremamente violento, que prende jornalistas e mantém todo tipo de violação de direitos humanos imaginável”.
A Beija Flor não confirmou os valores do patrocínio, mas em nota, disse que recebeu "apoio cultural e artístico do governo da Guiné Equatorial". “Se o enredo da Beija-Flor para 2015 os incomoda tanto, porque então não começaram essa ‘batalha’ contra a Guiné Equatorial em 1974? A partir deste ano o Brasil expandiu suas relações diplomáticas com o país africano. Porque não bradaram pela exclusão da Guiné da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa?... É muito importante que o corpo de julgadores, escolhido pela Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), não realize um julgamento político da Beija Flor. A isenção é fundamental”, diz nota da escola.
Críticos lembraram que não foi a primeira vez que a escola exaltou ditaduras. O “equívoco” teria sido cometido em 1973, 1974 e 1975, com os enredos Educação para o desenvolvimento, Brasil ano 2000 e Grande decênio, respectivamente, que elogiava os feitos da ditadura militar brasileira, desprezando os assassinatos, torturas e outras violações dos direitos humanos a opositores do regime.
Neste ano, representantes do governo de Guiné Equatorial acompanharam o desfile num camarote. Do lado de fora, o coletivo Projetação denunciou o patrocínio recebido pela escola, que exaltou uma ditadura. Veja abaixo.