Cordel - A mulher que não queria ser mãe

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A MULHER QUE NÃO QUERIA SER MÃE Por Jarid Arraes Sheila era o nome dela Trinta anos já contava Trabalhava com afinco Muito ela se dedicava Pois a sua profissão Era a mais pura paixão Que amar ela adorava. Seu marido era incrível Companheiro e carinhoso Na rotina conviviam De um modo harmonioso O respeito ali presente Era sempre recorrente Era bem maravilhoso. Sempre junto do parceiro Sheila amava viajar Conhecer o mundo todo Da montanha até o mar Era intensa a energia Era imensa a alegria Ao planeta desbravar. Sheila era uma mulher Como se pode notar Plenamente satisfeita Sem de nada reclamar Mas só tinha um problema Um incômodo dilema Sempre a Sheila perturbar. A família dos pombinhos Na chatice a incomodar Com frequência pressionava Para Sheila engravidar Todo dia era a pressão Irritante sem noção E difícil de aguentar. Sheila já tinha explicado Que ser mãe não desejava Pois não tinha vocação Nem talento ela encontrava Não queria ter criança Que acabasse a esperança Da família que amolava. Mas ninguém compreendia Muito menos respeitava Sheila era importunada Se mordia e se irritava Não queria engravidar O que custa respeitar Ela sempre questionava. Era sempre a mesma coisa Sempre a mesma discussão Sheila logo se aprontava Com muita argumentação Tentando ela a explicar Pra família se acalmar Mas não tinha solução. Sua mãe lhe perguntava Se dinheiro era a questão Mas dinheiro não faltava Isso tinha era um montão Seu trabalho era seguro Com vislumbre de futuro Pra ganhar a promoção. O seu pai se preocupava Perguntando sem parar Se saúde era o dilema Para Sheila engravidar Mas estava tudo bem Se quisesse um neném Poderia então gerar. Sua sogra na agonia Se jogava pra chorar Já que muito desejava Um netinho pra mimar Mas a Sheila rejeitava Da ideia não gostava Sem indicio de mudar. Mas o marido de Sheila Era muito descansado Respeitava sua escolha Não ficava aperreado Pois já tinha aprendido Tinha enfim compreendido E ficava então calado. Tudo aquilo que viviam Era lindo e importante Para eles muita coisa Era mais interessante Pois a tal maternidade E essa tal paternidade Não lhes era relevante. Sheila até se divertia E brincava com criança Mas que isso não gerasse Nenhuma falsa esperança Só gostava de brincar De um tempo dedicar Sem de mente ter mudança. Mas agora aos 30 anos As famílias pioravam Sem fazer a cerimônia Se metiam, se enfiavam Invadindo seu espaço Dominando seu pedaço Eles só lhe irritavam. Sheila fez um ultimato Convocou a parentela Prum jantar organizado Com comida na panela Todo mundo se animou E enfim logo pensou Que acabava-se a querela. Todos foram já pensando Que Sheila anunciaria A sonhada gravidez Que muito se insistia Mas foi a decepção A mais forte emoção De quem tudo ali ouvia. Sheila logo levantou E se pôs logo a falar Que aquela situação Não podia se esticar Com força de pensamento Dominou o seu momento Sem parar de explicar. Disse Sheila assertiva: Parem de me pressionar Eu não quero ter criança Eu não quero engravidar Essa é minha decisão Se incomodar ou não Passem a se conformar. Sheila então continou: Porque eu posso escolher Tenho sorte e privilégio E vocês precisam ver Que a mulher desinformada Que é pobre e desamparada Está jogada pra sofrer. Peço que fiquem felizes Porque eu sou exceção Sou a dona da minha vida E eu possuo essa opção Não insistam na chantagem Parem essa fuleragem De me impor resolução. Eu não tenho obrigação De acabar engravidando Só porque eu sou mulher Vocês ficam importunando Pois eu tenho mais função Do que ter a gestação Só porque tão pressionando. Na nossa sociedade Querem sempre ensinar Que mulher tem um lugar Onde deve se portar Com um jeito submisso Sem querer nada além disso E sem nada questionar. Pois eu digo que rejeito Esta vil imposição O meu corpo me pertence Assim como a decisão De jamais engravidar Por assim eu desejar Acabou-se a discussão. A família ficou muda Ninguém disse nem um "piu" Um silêncio tão profundo Sheila mesmo nunca viu Mas ficou bem satisfeita Com o sucesso da receita Bem melhor do que previu. Noutro dia foi trabalho E o sucesso imaginado Sheila enfim foi promovida Seu salário aumentado Teve a comemoração Com toda a repartição Pelo que foi conquistado. Com viagem já marcada Sheila estava bem feliz Pois enfim conheceria Um lugar que sempre quis No amor realizada Sheila era abençoada Do seu reino imperatriz. Gravidez é muito bom Para quem a desejar Mas se isso não quiser Que ninguém vá perturbar Escolher é um direito Optar é um preceito Que devemos respeitar. FIM   Conheça e compre mais cordéis feministas: www.jaridarraes.com/cordel Conheça também o livro "As Lendas de Dandara": www.aslendasdedandara.com.br