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CULTURA
el
Por Jarid Arraes
Era uma vez uma menina
Dotada de esperteza
Nascida lá no sertão
Batizada de Tereza
Era muito da danada
Arretada de brabeza.
Ela muito curiosa
Gostava de aventura
Carregava bela fama
De fazer muita loucura
Não fazia nove horas
E na queda ela era dura.
Acontece que Tereza
Não era aquela biboca
O povo que exagerava
E gostava de fofoca
Da vida dela cuidava
Feito mimada dondoca.
As carolas da igreja
Só faziam cochichar
Da menina espevitada
Que vivia a badernar
Queriam Tereza quieta
Ajoelhada pra rezar.
Foi que a mãe aperreada
Teve então uma clareza
Mandou trazer um livro
Com história de princesa
Segura do seu sucesso
Deu o livro pra Tereza.
A menina interessada
Logo se botou a ler
Subia e descia o olho
Mas não podia entender
A princesa era frouxa
E nada sabia fazer.
Por causa daquele traje
A princesa não pulava
Passava o dia cantando
E por tudo se acanhava
Não era como Tereza
Que só mais se enjoava.
O livro era bem grosso
Mas nada se assucedia
Tereza se entediava
Virava-se e remexia
Até que parou de ler
Sufocada de agonia.
Mas o pai ficou nervoso
Chamou Tereza de lado
Ameaçou com castigo
Disse estar desapontado
Tanto gritou e berrou
Que acabou muito cansado.
A menina era teimosa
Escapulia na janela
Queria correr na rua
Não brincava de panela
Só queria usar bermuda
Mais no pé uma chinela.
As amigas de Tereza
Todas gostavam de rosa
Era a onda de princesa
De ser loira e ser formosa
Mas essa coisa de Barbie
Ela achava era horrorosa.
Muita frescura enjoada
Muita regra e etiqueta
Tereza era muito ativa
Brincava de carrapeta
Bola de gude, futebol
Patins, terra e luneta.
Só que essa liberdade
Muito em breve ia acabar
Pois trouxeram um cadeado
Para a porta então trancar
Tinha até corrente e chave
Sem chance de se escapar.
Tereza tentou fugir
Mas o pai a segurou
Apertou bem o seu braço
No quarto a trancafiou
Ia da escola pra casa
E bastante ela chorou.
Mas depois de oito meses
Sua mãe foi percebendo
Que a menina estava mal
Amarela e esmorecendo
A culpa bateu bem forte
E ela foi se arrependendo.
Ela viu que tava errada
Essa história de prender
Criança tinha energia
E merecia então crescer
Com bastante liberdade
E com vontade de viver.
Se tem menina princesa
Que gosta muito de rosa
Tem também a danadinha
E que é muito geniosa
Tereza era só um tipo
De garota talentosa.
Conversou com o marido
E impôs sua conclusão
Tinha mudado de ideia
Não aceitaria "não"
Pois estava decidida
Com uma forte opinião.
Foram contar pra Tereza
Que tudo podia fazer
Rolar, pular e dançar
Escalar, cair e correr
E se gostasse de princesa
Isso também podia ser.
A menina deu um pinote
Correu pra pegar a bola
Era feliz dia e noite
Fosse em casa ou na escola
Era alegre o tempo todo
De bermuda ou camisola.
O tempo foi se passando
E Tereza foi crescendo
Cada vez mais entendida
Do que tava acontecendo
Gostava de brincadeira
Mas ia sempre aprendendo.
As amiguinhas adoravam
Esse jeitinho de Tereza
Ela respeitava a todas
E tinha muita esperteza
Na hora que explicava
Que nem tudo era beleza.
Tudo bem gostar de Barbie
De casinha e vestidinho
Mas a vida é muito mais
Que ter tudo bonitinho
Garotas que não precisam
De esperar principezinho.
As carolas da cidade
Que fossem se conformar
Tereza tava bem livre
E pronta pra sapecar
Não tinha gente capaz
De a menina embonecar.
Pois ao papai e à mamãe
Eu peço muita atenção
Que criem meninas livres
De todo tipo de opressão
Que sejam o que quiserem
Cheias de amor no coração.
Pois é muito importante
Ensinar independência
Que sejam bastante fortes
Cheias de resiliência
E com a cabeça feita
Dotadas de competência.
Assim como livre fui
Livre todas devem ser
Aprendendo desde cedo
A sempre desenvolver
Um caráter pertinente
Que saiba se defender.
Meninas são liberdade
São força e revolução
Usam sua inteligência
Com muita imaginação
Sempre com muita coragem
E muita dedicação.
Ser menina não é ruim
E não pode ser castigo
Se ainda lhe restar queixa
Venha se entender comigo
Pois afirmo com certeza
Pra amigo e pra inimigo.
FIM
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Foto de capa: Reprodução