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A ideia do evento é que negras e negros ocupem as salas de cinema pelo país no dia da estreia do novo filme da saga, com o intuito de prestar solidariedade ao protagonista - fator que motivou a hashtag de boicote - e "constranger" os racistas
Por Ivan Longo
Ganhou repercussão essa semana o movimento racista da internet criado para boicotar o novo filme da saga 'Star Wars' por conta da presença de um protagonista negro no elenco. Com a hashtag #BoycottStarWarsVII, alguns fãs norte-americanos, raspaldados por internautas de outros países, demonstraram seu ódio e preconceito ao afirmarem que o filme promove, entre outras coisas, um "marxismo cultural" e que seria uma "propaganda anti-branco". Em pouco tempo, no entanto, a hashtag passou a ser ridicularizada e foi apropriada por aqueles que identificaram o racismo.
No Brasil, centenas de negros e negras já estão se mobilizando para que a explicitação do racismo saia do âmbito da internet. Está marcado para o dia da estreia de Star Wars: O Despertar da Força, nas salas de cinema do país, o "Bonde negro para a estreia de Star Wars". A ideia do evento é, além de prestar solidariedade ao protagonista negro e a todos aqueles atingidos com o racismo, "constranger" os racistas e criar representatividade.
"Eu mesma não quero 'organizar' e sim dar um empurrãozinho para esse desejo coletivo de constranger os racistas. A ideia não está muito madura, mas a proposta é que cada um forme um grupo de pessoas negras e vá prestigiar o John Boyega. Cheguei a marcar um lugar no evento mas não precisa ser lá, seria legal se acontecesse no Brasil todo", explicou a estudante Andreza Delgado, responsável pela criação do evento no Facebook que já conta com mais de 600 confirmações de presença.
De acordo com a jovem, que milita no movimento negro, o ato se dá nos moldes de uma "provocação", mas que tem teor, sim, de ato político, até pela falta de representatividade que as pessoas negras têm no país. "Aqui no Brasil temos esse fenômeno de nós, pessoas negras, representarmos boa parte da população brasileira e não termos espaços na mídia. Essa tentativa de boicote mostra o lado racista da humanidade e mostra a necessidade das pessoas negras de se organizar e apoiar uns aos outros, aquela mesma ideia do 'ubuntu' (Sou o que sou pelo que nós somos)", analisou.
Ainda que falte mais de um mês pra a estreia do filme no Brasil e que o evento ainda possa ser aprimorado, um aspecto interessante da mobilização até agora, segundo Andreza, é que uma minoria que confirmou presença é, realmente, fã da saga.
"Já que os racistas não querem um protagonista negro, a gente até vai na estreia, inclusive fantasiado. A vida toda os ícones negros foram embranquecidos, Machado de Assis é um bom exemplo, e agora querem reivindicar a supremacia branca com essa história de um negro não poder ser um herói intergaláctico e de que “existe uma propaganda anti-branco”. A vida toda as pessoas negras passaram por um apagamento, mais do que uma propaganda anti-negro, existe um sistema anti-negro", avaliou a jovem.
Foto: Divulgação