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Para Chico Nunes, professor de Filosofia da Faculdade Cásper Líbero, a figura do folclore nacional representa a resistência dos setores mais humildes e também uma resistência da cultura brasileira
Por Isadora Otoni
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[caption id="attachment_34969" align="alignleft" width="300"] Os gorros de Saci são distribuídos por Chico Nunes (Joana Guimarães)[/caption]
Para a maioria dos brasileiros, a principal comemoração do dia 31 de outubro é o Halloween. Menos para aqueles que defendem a cultura nacional em detrimento da estrangeira. Para eles, o último dia do mês é reservado para o Dia do Saci, figura folclórica brasileira que perdeu seu valor nas grandes metrópoles. Entretanto, grupos como a Sociedade dos Observadores de Saci (SOSACI) e a Associação Nacional dos Criadores de Saci (ANCS) buscam manter o Saci na memória.
Chico Nunes, professor de Filosofia da Faculdade Cásper Líbero e membro do SOSACI, coordena duas iniciativas inusitadas para resgatar a figura do Saci em São Paulo. No dia 30, com auxílio do jornalista esportivo Celso Unzelte, ele faz uma partida de futebol de um pé só na quadra da Faculdade Cásper Líbero. Para o dia seguinte, ele promove a “Saciata”, uma passeata de um pé só atravessando a Avenida Paulista, saindo do prédio da Gazeta e indo até a entrada da FNAC.
Chico explicou à Fórum a importância do Saci, mostrando que sua figura não só representa a resistência dos setores mais humildes, mas também uma resistência da cultura brasileira.
Fórum – Qual a importância do resgate da figura do Saci?
[caption id="attachment_35018" align="alignleft" width="300"] "O meu [Saci] eu soltei lá no Parque Trianon", relatou Chico Nunes (Reprodução / Facebook)[/caption]Chico Nunes– A cultura do Saci mostra como o povo, principalmente os setores mais humildes da população, constroem formas de resistência diante de vários processos, sejam eles de exploração da condição de trabalho, seja da discriminação social, mas também com relação à supervalorização de elementos da cultura estrangeira em detrimento da cultura popular brasileira. Aqueles que reverenciam a cultura do Saci o adotam como símbolo em referência à resistência popular.
Fórum – A preferência da cultura estrangeira em detrimento da brasileira pode ser explicada pela globalização?
Chico – Então, os adeptos ao movimento do Saci não são xenófobos. Não há um ódio à cultura estrangeira, mas considerando a globalização, assim como o Halloween vem pro Brasil, a gente gostaria que o Saci fosse para os Estados Unidos e pra Europa. O problema é que a atual globalização é uma globalização de mão única, a gente apenas recebe o entretenimento de fora sem que haja um intercâmbio.
Fórum – Como surgiu a Saciata?
Chico – [Risos] A Saciata fui eu quem criei aqui em frente ao prédio da Gazeta. Depois da criação dos Observadores de Saci há 11 anos em São Luiz do Paraitinga, entrei em contato com vários amigos, o Vladimir Sacchetta, o Mouzar Benedito, e aí eu pensei em criar alguma coisa aqui em São Paulo. Além da Saciata, temos o Futebol do Saci e a exposição de artes referentes à cultura do Saci, entre outras atividades variadas ao longo desses dez anos. Mas sem dúvida a Saciata é a que mais desperta a curiosidade das pessoas, porque a gente atravessa a avenida na frente da Gazeta pulando de uma perna só e com um gorrinho.
Tive um aluno da Cásper [Líbero], o Henrique, que é de Botucatu, onde tem a Associação Nacional dos Criadores de Saci. Ele um dia me trouxe um Saci, e pra quem não sabe o Saci nasce no terceiro gomo do bambu brotando de baixo pra cima, naquele cabo grosso chamado Taquaruçu, então quando o bambu está amadurecendo a gente abre e solta o Saci. O meu eu soltei lá no Parque Trianon.
Fórum – E qual é a personalidade do Saci?
Chico – De um modo geral, ele se expressa como um adolescente muito travesso. Com os amigos ele faz mais brincadeira, mas com as figuras que são mais prepotentes e arrogantes ele comete travessuras maiores. Pela tradição, ele costuma amarrar a crina do cavalo, o que aparentemente é um castigo para o cavalo. Mas não é. Às vezes amarrava a crina para servir como estribo para colocar o pé e poder cavalgar. Ele também derrubava os homens do cavalo, porque no período colonial só tinha cavalo quem era fazendeiro e poderoso, por isso ele cometia esse tipo de estripulia. Talvez ele faça isso com alguns carrões poluentes que ocupam espaço na via pública, ou com algum carro que sirva para reprimir manifestações legítimas da população. O Saci hoje é quase um Saci online, que já está no século 21 e acompanha todo o avanço da sociedade.