O aparecimento de variantes do coronavírus no Brasil continua provocando dúvidas entre a população, principalmente em relação aos efeitos das novas cepas, quais as que oferecem risco maior e se as vacinas disponíveis no país têm eficácia diante do cenário novo.
O médico e doutor em infectologia, Marcos Caseiro, destaca que, pelo menos por enquanto, a principal ameaça ao Brasil não é a variante Delta.
“A cepa indiana ainda é muito pouco prevalente em nosso país. Os dois grandes estudos que a gente tem mostram que não há presença dela em intensidade, são poucos casos, inclusive em São Paulo. Contudo, é importante entender que nós temos uma variante que é muito ruim. Hoje, a P1, aquela que surgiu em Manaus, é responsável por, praticamente, toda a epidemia no Brasil. Está dominando o país, com 98% dos casos”, alerta Caseiro.
O infectologista reafirma que, pelos dados recentes, a variante indiana tem se disseminado muito vagarosamente no país, “porque ela tem que ‘competir’ com a P1, que já circula e é muito grave também. Então, eu não sei se a gente vai ter um grande problema com essa cepa indiana”.
O médico informa que a maioria das vacinas disponíveis foram testadas. “Por exemplo, a Pfizer, a Oxford/AstraZeneca mantêm eficácia contra as variantes, mas, principalmente, após a segunda dose. Por isso, é importante tomar a segunda dose para garantir a eficácia. Para a variante Delta, a vacinação completa traz um nível de proteção muito maior”.
Para se ter uma ideia, quando se é imunizado com a primeira dose, a proteção contra a Delta é de cerca de 33% para Pfizer e para Oxford/AstraZeneca.
“Porém, quando se toma a segunda dose, a proteção vai acima de 60% para a Oxford/AstraZeneca e quase 90% para a Pfizer. A CoronaVac não tem esses dados, mas há evidências que tenha proteção, sim. Existem dados de estudos de efetividade, que mostram que essa vacina tem eficácia também”, relata.
Transmissão sustentada
Ainda em relação à Delta, o médico afirma que, no Brasil, sua transmissão é sustentada.
“Normalmente, quando se descobre um caso de uma variante fora do país, há um vínculo epidemiológico. Por exemplo: a pessoa foi para a Índia, voltou, fez o exame e deu variante Delta. Ele tem esse vínculo epidemiológico com uma área onde circula a cepa. Agora, quando a pessoa pegou essa variante e nunca foi à Índia, ele pegou no país, ou seja, alguém passou para ele. Nesse caso, se diz que é uma transmissão sustentada, quando você detecta casos de transmissão no país, sem vínculo epidemiológico”, acrescenta Caseiro.