O ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, mentiu aos senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura as omissões do governo no combate à pandemia, a CPI do Genocídio, ao afirmar, neste quarta-feira (19), que não houve desautorização por parte de Jair Bolsonaro para a aquisição de doses da Coronavac em outubro do ano passado.
À época, o então ministro anunciou, após reunião com governadores, que assinou carta de intenções para adquirir 46 milhões do imunizante contra a Covid produzido pela chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. No dia seguinte, entretanto, Bolsonaro afirmou que não compraria a "vacina chinesa". "A vacina chinesa de João Doria, qualquer vacina antes de ser disponibilizada à população, deve ser comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada pela Anvisa. O povo brasileiro não será cobaia de ninguém. Minha decisão é a de não adquirir a referida vacina", disparou o presidente através das redes sociais.
À CPI, Pazuello disse que a declaração de Bolsonaro foi "política", que não recebeu ordem de cancelar a compra do imunizante e que, inclusive, as negociações teriam continuado. "Quem manda é ele eu obedeço. Aquilo é um jargão simplório colocado pra discussão de internet. Eu coloco aqui, eu queria colocar uma coisa pros senhores. Acreditem. Nunca o Presidente da República mandou eu desfazer qualquer contrato, qualquer acordo com o Butantan. Em nenhuma vez", declarou.
Informações do próprio Ministério da Saúde, obtidas via Lei de Acesso à Informação (LAI) pelo deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) em outubro do ano passado, no entanto, confrontam a versão de Pazuello de que "as negociações continuaram".
Valente entrou com pedido de informações em outubro, logo após a declaração de Bolsonaro desautorizando Pazuello, solicitando "cópia do processo que decidiu pela aquisição da Coronavac e que fundamentou a decisão de desistir de adquirir a referida vacina".
Em resposta, a pasta informou que "não existe processo [de compra da vacina] formalizado, tendo em vista que não houve, por parte da Anvisa, autorização de aquisição de vacina, sendo o órgão competente para tal ato" [confira a íntegra da resposta ao pedido via LAI aqui]. Ou seja, o próprio Ministério admitiu que não havia ainda negociação pela vacina, confirmando que a intenção de compra expressada por Pazuello em outubro foi, de fato, desautorizada por Bolsonaro.
O governo Bolsonaro só decidiu fechar acordo para a compra do primeiro lote de vacinas Coronavac em dezembro de 2020.