Por Mário Adolfo Filho
De Manaus – No dia 27 de janeiro, quando encontrou apoiadores em frente do Palácio do Alvorada, em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro minimizou a crise enfrentada pelo Amazonas àquela altura. Disse que o governo federal foi além do que era obrigado a fazer e culpou os governos estadual e municipais. “Agora no estado tem que ter gente para prever quando vai faltar uma coisa ou não, para tomar providência. Atualmente está equalizada a questão lá”, afirmou.
Mas a situação não estava equalizada. Nos meses de janeiro e fevereiro de 2021 o Amazonas registrou mais mortes por Covid-19 que o ano passado inteiro. Foram 5.575 óbitos no primeiro bimestre deste ano, enquanto que de março a dezembro do ano passado ocorreram 5.285.
Para o governo federal, parecia ser um problema pontual e localizado, já que no dia 30 de janeiro o presidente Jair Bolsonaro voltou a negar que a crise no Amazonas. Só que o colapso da falta de oxigênio em Manaus teve participação direta do próprio governo.
“O trabalho é excepcional do Pazuello, é um tremendo de um gestor", disse Bolsonaro ao sair naquele dia de uma concessionária da Honda em Brasília. Duvido que, com outra pessoa, teria tido a resposta que ele está dando. Ele faz tudo o que é possível”, completou.
O Brasil
O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) informou na quarta-feira (03) que o Brasil contabilizou mais 1.910 óbitos e 71.704 contágios nas últimas 24 horas, elevando os totais de vítimas e contraminações para 259.271 e 10.718.630 respectivamente. Com os novos dados, o país teve a pior marca de mortes desde o início da pandemia, superando o recorde do dia 2 de março, quando foram contabilizadas 1.641 vítimas.
Para o epidemiologista da Fiocruz Amazônia Jesem Orellana, os números serão ainda piores nas próximas semanas. Estudo da fundação mostra que a variante P1, identificada pela primeira vez em Manaus, aumenta em 10 vezes a carga viral no corpo e é duas vezes mais transmissível. Com a propagação da nova cepa em vários estados, a tendência é uma situação ainda mais trágica.
“Há situações mais críticas que tendem a piorar nessas cidades nas próximas semanas e isso elevará os números do país. Há várias epidemias em ritmos diferentes, especialmente em dezenas de metrópoles mais afetadas. Enquanto Manaus está em baixa, Porto Alegre está em alta, por exemplo”, avalia Orellana.
Enquanto isso, Bolsonaro continua negando o óbvio."Desculpe aí, pessoal, não vou falar de mim, mas eu não errei nenhuma desde março do ano passado. E não precisa ser inteligente para entender isso. Tem que ter um mínimo de caráter. Agora só quem não tem caráter que joga o contrário", disse na segunda-feira (1°), na saída do Palácio da Alvorada.
Os avisos são dados. Bolsonaro continua sem agir.