Em entrevista a agência de notícias alemã Deutsche Welle, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, acusou o governo Jair Bolsonaro, sem citar o presidente nominalmente, de ser o responsável pela "tragédia" que já matou mais de 250 mil brasileiros.
"A interferência política na saúde pública tem sido uma grande barreira para o combate adequado à epidemia e explica muito a posição do Brasil como vice-campeão mundial em mortes pelo covid-19. A negação da gravidade da pandemia, a disseminação de tratamentos sem comprovação científica, o combate deliberado ao uso de máscaras e às medidas de restrição de circulação são os grandes responsáveis, neste momento, pela segunda onda explosiva que o país está sofrendo e que vai se agravar pela presença da chamada variante P1. Esse obscurantismo científico das mais altas autoridades do país causou um dano irreversível ao país, que ultrapassou as 250 mil mortes, uma catástrofe sem precedentes", afirmou.
Para Dimas Covas - uma das autoridades de saúde mais cultuadas pelo governador paulista, João Doria (PSDB) - a tragédia será colocada na conta dos "negacionistas".
"A história colocará essa tragédia na conta desses negacionistas. Para o cientista preocupado e engajado como eu nessa luta resta, além de apontar esses absurdos, trabalhar em todas as frentes para minorar o sofrimento da população, inclusive na frente da comunicação e na batalha política da ciência", disse.
Covas ainda afirmou que a relação do Butantan, maior produtor de vacinas do país, com o governo Bolsonaro foi um "ponto fora da curva".
"O Instituto Butantan é o principal fornecedor de vacinas e soros para o Ministério da Saúde, e o nosso relacionamento sempre foi excelente. O ponto fora da curva aconteceu nesse governo que vem negando, por motivos políticos e obscurantistas, essa importância".