Candido Pinheiro Koren de Lima, natural de Quixadá (CE), é um médico oncologista que fundou, em 1993, a Hapvida, que é hoje a maior operadora de planos de saúde do Norte e Nordeste brasileiro.
Em maio deste ano, a versão norte-americana da revista Forbes divulgou a lista dos homens mais ricos do mundo. Candido Pinheiro aparece por lá com uma fortuna estimada de US$ 3,7 bilhões. A soma da riqueza da família, no entanto, chega a US$ 7,5 bilhões. O restante da bolada está dividida entre seus dois filhos, Candido Pinheiro Koren de Lima Junior (US$ 1,9 bilhão) e Jorge Pinheiro Koren de Lima (US$ 1,9 bilhão).
Segundo a Forbes, a fortuna de Koren de Lima mais do que dobrou durante a pandemia. Com o montante, ele ocupa a 15ª posição no ranking brasileiro e a 807º no ranking global. O número de bilionários cresceu no Brasil e no mundo mesmo com crise gerada pela Covid-19.
O crescimento foi fruto de um movimento agressivo de expansão do Hapvida no mercado. Aquisições de hospitais, busca por novos mercados no País e a combinação de negócios com o Grupo Notre Dame Intermédica são algumas das ações tomadas pela companhia cearense. Esta última irá criar uma megaempresa com valor de mercado estimada entre R$ 100 bilhões e R$ 120 bilhões.
Jantar com Bolsonaro
Candido Pinheiro compareceu a um jantar com o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) em abril deste ano. Além dele, estavam presentes cerca de 20 outros empresários, entre eles David Safra, presidente do Banco Safra, Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do conselho de administração do Bradesco, André Esteves, fundador do BTG Pactual, Rubens Ometto Silveira Mello (Cosan), Flávio Rocha (Riachuelo) e Paulo Skaf, presidente da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp). O anfitrião do jantar foi Washington Cinel, dono da empresa de segurança Gocil.
Acusações
Em agosto do ano passado, a Hapvida foi acusada de demitir médicos que se recusavam a receitar o Kit Covid, com hidroxicloroquina, a seus pacientes. O kit, sem comprovação de eficácia, é defendido por Bolsonaro.
“Eu não queria prescrever hidroxicloroquina a pacientes com a covid-19 porque não é um medicamento aconselhado por entidades de saúde. A pressão maior é para a prescrição da hidroxicloroquina. Queriam nos obrigar a prescrever”, disse um médico demitido da Hapvida em reportagem do jornalista Vinícius Lemos, da BBC Brasil. Outros profissionais também foram dispensados após resistiram às pressões de aderir ao tratamento não comprovado.
Na ocasião, a reportagem teve acesso a um comunicado enviado por um dos coordenadores a empresa a seus funcionários afirmando que “TODOS os pacientes irão sair com a medicação da hidroxicloroquina (exceto os contraindicados)”.
Em dezembro, a empresa seguiu abusando da hidroxicloroquina, pressionando seus médicos a receitá-la, segundo reportagem de Inácio França, do portal Marco Zero. Mensagem enviada pela empresa a uma equipe de Recife diz o seguinte: “Caro médico, o Hapvida está distribuindo gratuitamente a hidroxicloroquina para o tratamento do Covid-19 para seus usuários. […] Quando indicado, NÃO DEIXE DE PRESCREVER. O corpo clínico corporativo mantém-se atualizado constantamente sobre os melhores tratamentos disponíveis para seus usuários”. “Nossos resultados corporativos fortalecem a hipótese que quando iniciado a droga na fase inicial mudamos o desfecho da doença”, diz ainda.
Em notas enviadas à BBC e ao Marco Zero, a empresa negou pressionar os funcionários.
O perfil Jairmearrependi comentou sobre a proximidade entre o dono da Hapvida com Bolsonaro e deu destaque ao apelido recebido pela empresa que abusa da cloroquina: “Hapmorte”. “Nenhuma surpresa com o dono da Hapvida indo jantar com o Bolsonaro. O Hapvida não só afirmou que a hidroxicloroquina estava dando resultados promissores em seus hospitais, como saiu distribuindo de graça na rede, como se fosse uma grande ação social. Chamam até de Hapmorte”, tuitou.
Mais denúncias
Nesta segunda-feira (4), o médico Felipe Peixoto Nobre detalhou em entrevista ao jornal O Globo como ocorria o que ele classifica de assédio por parte da operadora de saúde Hapvida para ele e outros colegas cumprirem metas de prescrição de “kit covid”, composto por remédios sem comprovação comprovada conta o coronavírus.