Em entrevista à BBC Brasil, Kátia Castilho que perdeu os pais para a Covid-19, relata um drama que tem vivido muitas famílias brasileiras que tiveram parentes idosos tratados contra a doença pelo plano Prevent Sênior, acusado de conluio com Jair Bolsonaro (Sem partido) para propação do uso da cloroquina.
No mesmo dia em que perdeu o pai, Norberto - tratado em hospital público após cancelar o convênio com a operadora -, Kátia foi chamada pela Prevent para internar a mãe, Irene, que já havia iniciado o tratamento com "kit Covid" em casa após triagem pelos médicos do plano.
"Ele tinha enfisema pulmonar (condição que causa dificuldades respiratórias), por isso sabíamos que ele não podia nem sonhar em contrair essa doença", conta, dizendo que, após o diagnóstico, a mãe piorou com o uso dos medicamentos ineficazes contra a doença, como a cloroquina e a ivermectina.
"Ela não via a hora de receber o "kit covid". Eles brincaram com uma coisa muito séria", diz. "A minha mãe realmente confiava (na Prevent Senior)".
Irene morreu em abril, após 33 dias de internação. Ela foi cremada e suas cinzas foram espalhadas sobre o túmulo de Norberto.
"Depois que ela faleceu é que começamos a refletir um pouco, a ser mais racional. Eu não dormia à noite. Eu estou tomando remédio de tarja preta. Sabe quando você vai voltando a fita? Eu me sentia como estivesse voltando uma fita, percebendo que isso estava errado, isso aqui não estava legal e eles erraram nisso", disse Kátia, ressaltando que a mãe "nunca havia imaginado que poderia ser uma cobaia nas mãos deles e que morreria logo".