Depois de ter celebrado a suposta eficácia do vermífugo nitazoxanida no tratamento de pacientes com Covid-19, o governo Jair Bolsonaro (sem partido) desistiu de usá-lo para esse fim na rede pública de saúde.
Em ofício enviado à Câmara dos Deputados e obtido pelo jornal O Globo, o Ministério da Saúde informou que decidiu não incorporar o medicamento no rol de compras e distribuição pelo SUS.
“A nitazoxanida não consta nas orientações deste Ministério da Saúde para o tratamento da Covid-19, e também não se encontra incluída na Relação Nacional de Medicamentos – RENAME 2020, de forma que esse medicamento não é adquirido ou financiado com recursos federais do SUS”, diz o texto enviado pelo ministério. O ofício foi uma resposta a pedido de informações feito pela bancada do PSOL.
Em dezembro, o resultado do estudo foi publicado no jornal European Respiratory Journal. Ele mostrava que 55% dos voluntários que receberam o medicamento, de nome comercial Anitta, tiveram redução de carga viral. Mas 45% daqueles que tomaram um placebo também perceberam uma queda na quantidade do novo coronavírus medida em exames.
O estudo foi financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. A pasta anunciou a publicação do resultado em seu site no dia 24 de dezembro. Na nota, o ministro Marcos Pontes classificou que sua veiculação no periódico científico era “um presente de Natal da ciência brasileira para o mundo”.
Imagens de banco de dados
Em outubro, o estudo foi anunciado em evento no Palácio de Planalto, com a presença de Bolsonaro. Na época, houve um vídeo para apresentar a pesquisa que trouxe um gráfico extraído do banco de imagens Shutterstock para aparentemente mostrar os resultados positivos dos efeitos do vermífugo.
O gráfico de barras animado tinha uma seta apontando para dados em queda. Ele não trazia números ou indicações. Quando os dados começam a aparecer, a legenda é “Comprovado cientificamente, reduz a carga viral, fase precoce”. Quando chega ao menor valor, aparece a inscrição: “Nitazoxanida é eficaz”.
Deputada
O pedido de informações foi assinado pela deputada Sâmia Bomfim (PSOL). Em suas redes sociais, ela escreveu: “O governo federal ao invés de investir em fraudes medicamentosas já refutadas pela ciência, deveria centrar esforços em garantir a vacinação para todos os brasileiros”.