Sebastião Salgado compara sensação da pandemia com zona de guerra: "Uma espécie de vazio na alma"

Confinado em casa com esposa e filho em Paris, o fotógrafo acredita que esse é um momento decisivo para a sociedade

Foto: Reprodução/ Documentário "Revelando Sebastião Salgado"
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O fotógrafo Sebastião Salgado, famoso por seu trabalho em regiões de guerra e situações vulneráveis, afirmou que passar pelo confinamento em meio à pandemia traz uma sensação parecida à de estar em zonas de conflito. "Não se sabe onde a bomba vai cair", disse em entrevista ao jornal O Globo. Salgado está seguindo as medidas de confinamento em sua residência em Paris, na França, na companhia da esposa e parceira de trabalho, Lélia, e do filho Rodrigo. Segundo o fotógrafo, Lélia tem uma deficiência respiratória hereditária, e a família começou o confinamento antes mesmo do decreto oficial no país. "Senti o mesmo várias vezes em reportagens fotográficas em zonas de guerra, onde haveria um ataque massivo, com bombardeamento e muitos mortos. Não se sabia quem iria morrer", disse Salgado, sobre o sentimento que teve no dia em que foi declarado o confinamento oficial. "É uma sensação tão singular, de que a vida continua e algo grave vai se passar." O fotógrafo destacou que a sensação que considera mais angustiante é não saber quem será atingido pelo vírus. "É uma espécie de vazio na alma. Vai ser grave, mas para quem? Poderá ser para mim, minha mulher, meus filhos. Não se sabe onde a bomba vai cair", explicou, comparando o sentimento com o que sentiu em situações de guerra. "Só nas grandes catástrofes surgem as grandes solidariedades e reais preocupações com o futuro da Humanidade. Isso é o que teremos de fazer agora", afirmou o fotógrafo, que está aproveitando o período de isolamento para editar as imagens do seu próximo projeto, ao qual se dedicou nos últimos 7 anos, de fotografias da Amazônia. A exposição acontecerá em 2021. Salgado também acredita que esse momento será decisivo para a sociedade. Para ele, as pessoas devem repensar muitos comportamentos após viverem essa situação. "O conceito de essencial para nós foi mudando. Estamos muito perto da própria morte ou da morte de nossos próximos para dar valor à superficialidade. Penso que com que o agravamento desta epidemia, muitos valores vão mudar na sociedade", disse. Leia a entrevista na íntegra.