O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM?), afirmou que a capital do Amazonas está "em ponto de barbárie" com a pandemia de coronavírus. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, publicada nesta terça-feira (21), ele chorou e criticou a postura do presidente Jair Bolsonaro.
Os números oficias apontam, até o momento, 1.664 casos confirmados de coronavírus e 156 vítimas fatais na cidade. No entanto, Virgilio diz que 17% das 122 pessoas enterradas em Manaus no último domingo (19) morreram em casa. Na segunda (20), a taxa subiu para 36% de 106 mortos. Ou seja, o avanço da pandemia é maior do que o registrado no balanço oficial.
"São números que mostram o colapso. Estamos chegando no ponto muito doloroso, ao qual não precisaríamos ter chegado se tivéssemos praticado a horizontalidade da quarentena, no qual o médico terá que se fazer a pergunta: salvo o jovem ou o velho? ", disse o prefeito, à coluna Painel.
"Estamos em ponto de barbárie", desabafou. Até o momento, nem todas as mortes citadas pelo prefeito tiveram confirmação para coronavírus. No entanto, Virgílio diz acreditar que o vírus da covid-19 é a causa. O governo do estado do Amazonas informou que tem 91% dos leitos de UTI ocupados, cálculo que o prefeito considera exageradamente otimista.
Na segunda (20), Virgílio se reuniu com o vice-presidente, general Hamilton Mourão, para apresentar as necessidades da cidade no combate à pandemia. O prefeito aproveitou o encontro para desabafar contra o presidente Jair Bolsonaro.
Filho do senador Arthur Virgílio Filho, que teve o mandato cassado pela ditadura militar, ele se revoltou com a presença do presidente no ato em defesa de um golpe militar, no domingo (19).
"Não podia deixar de condenar o presidente participar de um comício, aglomerando, e ainda por cima tecendo loas a essa coisa absurda que foi o AI-5. Cassou meu pai, cassou Mário Covas, pessoas acima de quaisquer suspeitas, e que serviam o país", afirmou o prefeito.
"É de extremo mau gosto o presidente participar de um comício, insistentemente contrariando a Organização Mundial de Saúde e os esforços que fazem governadores e prefeitos. Bolsonaro toca diariamente nas minhas feridas", disse Virgílio.
Segundo o relato de Virgílio na coluna, Mourão ouviu calado as declarações. Na reportagem, o prefeito também reagiu à postura de Bolsonaro na última segunda (20), em que o presidente respondeu "não ser coveiro", quando perguntado sobre o número de mortes no país pelo coronavírus.
"Queria dizer para ele que tenho muitos coveiros adoecidos. Alguns em estado grave. Tenho muito respeito pelos coveiros. Não sei se ele serviria para ser coveiro. Talvez não servisse. Tomara que ele assuma as funções de verdadeiro presidente da República. Uma delas é respeitar os coveiros", afirmou Virgílio. Segundo a publicação, ao falar desses funcionários, o prefeito começou a chorar.
"Não fui criado sob essa lógica do 'homem não chora'. Nessa crise tem acontecido isso. Às vezes, consigo controlar. Não que precisasse controlar. Muitas vezes, não consigo", disse.