Na Argentina, vizinhos obrigam enfermeira a se mudar com medo de que ela passe coronavírus

Caso aconteceu na pequena cidade de Santo Tomé, no interior do país, onde há apenas 27 casos. Vítima das ameaças se mudou temporariamente para casa de amigos

A enfermeira Mari Asselborn (foto: Página/12)
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Um dos fenômenos da pandemia do coronavírus são os aplausos que se escutam durante a quarentena, em muitos lugares, para homenagear os profissionais da saúde que arriscam suas vidas em hospitais muitas vezes colapsados, e muitas vezes sem ter todo o material necessário para se proteger em meio a esse trabalho.

Mas há muitas exceções a essa regra, e não só no Brasil das hordas bolsonaristas buzinando em frente a hospitais e bloqueando a entrada. Na Argentina, país com muitos exemplos positivos sobre como lidar com a crise de saúde, também há o caso da enfermeira Mari Asselborn.

Ela mora na pequena cidade de Santo Tomé, na província de Santa Fe, região central do país; e trabalha no Hospital Provincial Cullen. Um dia, quando chegou em casa, sua porta tinha um cartaz que dizia “sabemos que você é enfermeira, deixe o bairro, você e sua filha, vocês vão infectar todos nós”.

Segundo a própria Mari, sua reação foi de raiva, mas também de medo. “Não sei porque fizeram isso, começou em um sábado de manhã, e de repente passou a ser todos os dias, me senti ameaçada, e decidi que o melhor era ir embora, pela segurança minha e da minha filha”, contou a enfermeira.

Mari vivia sozinha com a filha de quatro anos. Na pressa por encontrar um novo lugar, se mudou improvisadamente à casa de uma família de amigos. “Eles me ofereceram passar umas noites. Na primeira eu não consegui dormir”, conta ela, que está procurando um novo lugar para morar, mas teme que a reação da vizinhança possa ser igual a da que a expulsou de onde morava anteriormente.

A enfermeira disse que não sabe quem são exatamente os autores dos cartazes, já que não eram assinados, e tinha medo de perguntar aos vizinhos, que evitavam se aproximar dela. Mas afirmou que registrou queixa na polícia para que o caso seja investigado.

Mari Asselborn trabalha há 17 anos no Hospital Provincial Cullen, o único da cidade de Santo Tomé, onde há, até agora, 27 casos confirmados de coronavírus. No setor onde ela trabalha, efetivamente, pode haver contato com pessoas contagiadas. “Tento tomar todos os cuidados possíveis, porque além dos vizinhos tenho a minha filha, que é a primeira a quem não quero contagiar”, conta a enfermeira.