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A última quinta-feira (10) foi o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgados no Relatório Global para Prevenção do Suicídio em 2014, a cada 40 segundos uma pessoa se suicida e em 2012 foram registradas 800 mil mortes no mundo.
A exemplo de campanhas como a It Gets Better, instituições e movimentos sociais tentam alertar a sociedade para a gravidade das diversas formas de discriminação - como a homofobia e o machismo - e como essas violências podem potencializar um quadro de sofrimento, tornando-se fatores decisivos para que as vítimas se suicidem.
Seja porque não suportam a discriminação diária ou porque suas famílias são hostis e não lhes oferecem suporte, muitas pessoas gays, lésbicas e trans enxergam no suicídio a última saída para uma vida de sofrimento. Nas situações que envolvem o machismo, é possível citar dois casos que aconteceram no ano de 2013, quando duas adolescentes se suicidaram em um intervalo de apenas 10 dias após terem imagens íntimas vazadas na internet.
Para que possamos refletir sobre o suicídio em nossa sociedade e de fato desenvolver medidas preventivas, esse fenômeno social precisa ser analisado com mais profundidade e ir muito além de reducionismos. A depressão e outros transtornos mentais são pistas importantes nesse quadro, principalmente porque ainda somos uma cultura que negligencia a saúde mental dos indivíduos e trata o sofrimento psíquico como algo fútil. O acesso ao atendimento psicológico e à psicoterapia ainda é um luxo inacessível para a maior parte da população; os estigmas dos transtornos mentais estão longe de ser destruídos.
No entanto, muitas pessoas sofrem por causa do preconceito, do machismo e do racismo. Enfrentar diariamente a discriminação é um desafio árduo que causa prejuízos reais e reforça a exclusão. Sem alternativas, em uma sociedade que celebra a falsa meritocracia e não suporta quem foge dos rígidos padrões ditados, milhares de pessoas padecem. A saúde mental é dizimada e, sem opções de mudança, compreensão ou qualquer combate efetivo ao preconceito, dar um fim à própria vida pode parecer a melhor solução.
A prevenção ao suicídio se assemelha de certa forma com o combate ao bullying: não é suficiente falar nesses dois fenômenos sem que as motivações e causas por trás dos mesmos sejam analisadas com seriedade e combatidas. Em muitos casos, o bullying é também uma manifestação de racismo, homofobia e machismo. E quando o assunto é suicídio, o sofrimento agudo também é efervescido pelos preconceitos da sociedade.
A nossa responsabilidade é romper o tabu e nomear os fatores de risco e vulnerabilidade para que sejam devidamente combatidos. Prevenir o suicídio implica em lutar contra a discriminação sofrida por pessoas LGBT, contra o racismo e contra o machismo. Sem isso, uma grande parcela das pessoas que começam a ver o suicídio como alternativa continuam desamparadas e, por nossa omissão, os números de suicídios aumentam cada vez mais.
Foto de capa: Reprodução / Facebook