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A agência Énois, em parceria com o Instituto Vladimir Herzog e o Instituto Patrícia Galvão, fez uma pesquisa muito relevante para entendermos a gravidade do machismo no Brasil e suas consequências para as mulheres, especialmente as mais jovens. Com mais de duas mil jovens entrevistadas, com idades entre 14 e 24 anos, questões como assédio sexual, violência e tratamento machista desde a infância foram abordadas, revelando que ser uma garota no Brasil é algo muito difícil e amedrontador.
Quem é mulher sabe o que é sentir medo de sair na rua, de usar uma roupa específica ou de sair para se divertir, constantemente pensando no que os homens podem fazer ou falar contra você. Para as garotas entrevistadas, essa é uma realidade diária - muitas relataram que o simples ato de pegar um transporte público ou passar por uma calçada é motivo de apreensão, já que vêm acompanhados de palavras grosseiras, frases de conteúdo sexual explícito ou intimidação pelos olhares e posturas corporais dos homens naquele ambiente.
Saber que as mulheres sentem medo de homens em tantos contextos é algo muito sério. A constante ameaça e o temor fazem dessa generalização um quadro muito preocupante, principalmente porque a liberdade das mulheres está sendo podada. Por causa do medo que sentem de serem agredidas ou abordadas de maneira machista, essas jovens mulheres vivem uma rotina de limitações e passam a enxergar a maioria dos homens como agressores em potencial.
O quadro se torna ainda pior pelo fato de que a maior parte das agressões físicas contra mulheres são cometidas por familiares, parceiros, amigos ou, de modo geral, por homens conhecidos. A violência não parte somente de estranhos na rua, não é exclusividade de psicopatas ou dos ditos "doentes" que agarram mulheres em becos escuros. Eles também existem, mas nem de longe são os únicos responsáveis pelo pânico que essas garotas sentem e pela quantidade enorme de sofrimento que enfrentam na vida por serem mulheres.
Com dados como esses em mãos (é possível fazer o download de toda a pesquisa aqui), precisamos pensar seriamente no bem estar dessas jovens. Não podemos encarar como "normal" o fato de que tantas mulheres sentem medo dos homens e realmente possuem motivos concretos para temê-los. Segundo os relatos dessas garotas, nenhum ambiente é suficientemente seguro. O tratamento machista está em todos os lugares: em casa, na escola, nos ambientes de lazer, no trabalho, na faculdade, no metrô e pelas ruas. Não é difícil enxergar que existe aí um padrão de comportamento sob constante vigilância - e as consequências disso são profundas, afetam a autoestima, a confiança em si mesma e a própria noção de que é possível exercer talentos e habilidades e competir com equidade por espaços, empregos e posições.
O machismo está escancarado na nossa frente, é um fato impossível de negar e que traz prejuízos para a nossa sociedade, tornando as vidas das mulheres - crianças, adultas ou idosas - muito mais difíceis e perigosas. Reconhecer que o machismo é um problema deve ser o primeiro passo, mas não o único. Sem que atitudes sejam tomadas, corremos em círculos e não chegamos a lugar algum. Não dá para continuar falando para nós mesmos sem que as propostas e práticas transformadoras atinjam todos os cantos do país, em todos os âmbitos da nossa sociedade.
O Feminismo, a luta pela equidade entre homens e mulheres, precisa ser valorizado e reconhecido como uma estratégia imprescindível para melhorar a qualidade de vida dessas garotas. Para isso, necessitamos avançar com o Feminismo para áreas e contextos até então esquecidos e colocá-lo em prática de maneiras diversas, nas escolas, nas leis, na publicidade e no dia-a-dia. Para que essa realidade de machismo e medo deixe de existir, precisamos ensinar valores de igualdade e de valorização feminina para além de clichês sexistas que representam as mulheres como um grupo homogêneo que age e pensa de uma única forma.
Não se engane: o problema tem nome, agentes que o sustentam e que também se beneficiam com sua permanência. Quer seja um Congresso Nacional conservador com deputados fundamentalistas, ou um grupo de homens que dizem pornografias às mulheres que passam, somente nosso posicionamento de não aceitá-los como dominantes, com questionamentos incisivos e muita insubmissão, construiremos um Brasil onde garotas não sentirão medo de viver só por serem garotas.
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Foto de capa: Reprodução