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Segundo dados do Dieese, as mulheres negras brasileiras recebem em média 47,8% do valor recebido por homens brancos, além de serem o grupo com maior taxa de desemprego. O problema é tão grave que, mesmo quando a comparação é feita com mulheres brancas, ainda assim as mulheres negras se encontram em grande desvantagem. No "mercado de trabalho", a carne mais barata continua sendo a carne negra, que saiu da escravidão direto para os subempregos, exploração e para um cotidiano de racismo, onde até mesmo seus cabelos precisam passar no ferro quente para que as mulheres negras sejam empregadas.
No dia 1º de Maio, a tendência é falar da classe trabalhadora como um todo, fazendo com que o discurso seja masculino e branco demais. Poucos sequer mencionam as especificidades das mulheres negras, tampouco lutam por seus direitos. Por exemplo: segundo dados do IPEA, 21% das mulheres negras que trabalham estão empregadas como trabalhadoras domésticas. No entanto, até hoje a PEC das Domésticas segue sem regulamentação e os direitos das trabalhadores domésticas é, sem dúvida, um dos temas mais espinhosos de se tratar. Basta falar em favor dessas mulheres para assistir um verdadeiro pandemônio sendo formado, já que os brasileiros não querem aprender a lavar as próprias cuecas e também não querem pagar dignamente quem desempenha essa e muitas outras funções.
É difícil levantar a conscientização a respeito da situação da mulher negra no Brasil. Falar de racismo é um tabu; muitas pessoas não admitem que existe discriminação contra pessoas negras, nem desejam confrontar a mentalidade racista que ainda carregam em si. Por isso, a saída encontrada é fazer de conta que o problema não existe e se iludir, achando que ao falar de modo generalista, todos os trabalhadores serão contemplados - uma grande mentira.
Sem que sejam nomeadas as práticas racistas e os pontos problemáticos, se torna impossível solucioná-los. Não podemos falar de direitos trabalhistas sem dar atenção especial às trabalhadoras domésticas e às mulheres negras, pois entre todos os trabalhadores, são elas as que se encontram em situação mais vulnerável, que têm seus direitos vilipendiados e que são tratadas como inferiores. Quando falamos de direitos trabalhistas, também precisamos falar do alisamento capilar compulsório exigido pelos empregadores; precisamos falar da cínica ideia de "boa aparência" e da mentalidade que enxerga mulheres negras como serviçais, submissas ou burras de carga que tudo suportam.
1º de Maio deve ser o dia da trabalhadora negra, da mulher nordestina esquecida, da cidadã marginalizada e jogada para escanteio enquanto se insiste na ideia equivocada de trabalhadores universais. A luta coletiva precisa existir e se fortalecer, sendo mandatório que se atente para as especificidades raciais e de gênero e que todos se envolvam na luta pelos direitos de quem está em situação de maior desprivilegio.
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Foto de capa: Reprodução / Facebook