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Na última quinta-feira (4), o SPressoSP noticiou um ato de ódio que aconteceu dentro de um banheiro feminino na Universidade de Campinas (Unicamp). Entre afirmações como "ser mulheres não é calçar nossos sapatos" e "não deixem que os machos invadam seus espaços", havia ainda a ameaça "vamos cortar sua pica".
Em um mundo ideal, um acontecimento como esse seria considerado um crime e seria devidamente investigado. Mas mensagens como essas são constantemente pichadas em banheiros de universidades brasileiras, muitas vezes também com conteúdo racista, homofóbico e machista. Adicionalmente, o teor das mensagens escritas sugere que uma mulher feminista foi a responsável pelas palavras agressivas contra mulheres transexuais. O fato de que uma pessoa que deveria entender a gravidade da transfobia e combatê-la pode ter sido a responsável é um enorme agravante.
Homens e mulheres trans passam por muitas dificuldades no Brasil. Além dos possíveis conflitos humanos em suas próprias vivências pessoais, quem é trans ainda precisa lutar por direitos básicos que outras pessoas jamais precisariam reivindicar. Tanto para pessoas abertamente trans quanto para os que tentam manter isso da forma mais privada possível, há muitos riscos cotidianos, desde possíveis agressões até todo tipo de constrangimento. No caso do banheiro da Unicamp, a transfobia agride o simples direito de urinar.
O ódio e o preconceito contra pessoas trans é um tema muito difícil de abordar. Não porque seja difícil compreender as formas de discriminação e exclusão impostas contra pessoas trans, mas porque, na verdade, pouca gente parece se importar com o problema da transfobia, mesmo no contexto de movimentos sociais. O movimento feminista precisa de mais espaço para a diversidade, assim como o movimento negro e, infelizmente, também o movimento LGBT. É desgastante precisar de discussões internas para garantir a dignidade de mulheres negras, da periferia, lésbicas, transexuais e travestis, entre outras. Os movimentos sociais precisam se abrir e ir além de seus grupos limitados, para que também possam lutar por outras pessoas que estão passando por contextos gravíssimos de exclusão.
O caso da Unicamp precisa de mobilização coerente e incisiva. Precisamos da atuação de feministas que reconheçam a gravidade da transfobia para que esse episódio não passe em branco. Torcemos para esse caso vergonhoso seja investigado com a seriedade que merece, mas também vamos arregaçar as mangas e trabalhar por uma sociedade melhor para mulheres e homens trans.
É preciso romper o silêncio e declarar oposição a esse tipo de mentalidade transfóbica. Mulheres trans são mulheres, não merecem qualquer tipo de ameaça ou agressão e têm direito de existir em sociedade.
Foto de capa: Reprodução / Facebook