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Imagens da política de expropriação e deslocamento na Palestina
Por Ronaldo Ribeiro, de Nova Iorque
“O sertão é o mundo.” A universalidade das ternuras e dos dilemas humanos foi um dos motes da obra máxima de Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas. Apesar dos limites geográficos do sertão brasileiro, o alcance das mesquinharias, amizades, traições, conflitos e amores que Rosa descreve permite que o texto comunique com leitores de qualquer parte, origem e etnia, mesmo diante dos desafios de tradução dadas as peculiaridades da linguagem do escritor.
Em um ensaio de 2000 intitulado “Simpatias” [1], o fotógrafo americano de ascendência indiana, Fazal Sheikh, tentou captar em imagens parte da riqueza das crenças e do povo descrito por Rosa. Ao visitar o Parque Nacional Grande Sertão Veredas, Sheikh documentou em seus retratos as ternuras e os dilemas marcados nos rostos dos habitantes do Parque. O resultado é muito mais do que Nonadas.
Filadélfia, Pensilvânia Local: Slought Foundation [2] Exibição: Rasuras (Erasures), Fotografia, 2016. Artista: Fazal Sheikh
Em “Rasuras”, Fazal Sheikh usa fotografias para documentar as pessoas que vivem em comunidades deslocadas e marginalizadas em todo o mundo. Seu meio principal é o retrato, embora o seu trabalho também inclua narrativas pessoais, material de arquivo, som e seus próprios textos escritos. Sheikh parte da convicção de que um retrato é, na medida do possível, um ato de engajamento mútuo, e só através de um compromisso de longo prazo com um lugar e com uma comunidade é que podem ser feitos ensaios fotográficos significativos. Seu objetivo geral é contribuir para uma maior compreensão a respeito de grupos minoritários, e que a partir daí se combatam os preconceitos que muitas vezes são atribuídos àqueles mesmos grupos. [3] Rasuras traz imagens de um ensaio mais amplo, “The Erasure Trilogy” (Trilogia das Rasuras). Nas palavras do autor, “A Erasure Trilogy” (Trilogia das Rasuras) explora a angústia causada pela perda de memória e pelo esquecimento, ou amnésia ou supressão, e o consequente desejo humano de tentar preservar a memória, tudo visto através do prisma do conflito israelense-palestino.” [4] A secura e a aridez das imagens ecoam nas rugas das peles desgastadas dos personagens dos retratos de Sheikh. Apesar de aparentemente cansados, os rostos parecem comunicar uma espécie de coragem e de resiliência necessária para se viver em lugar inóspito. Rostos que comunicam os conflitos na Palestina, suas ternuras e dilemas, e que podem fazer lembrar a nós brasileiros sobre experiências semelhantes, ao menos em alguma medida. Sigo Roland Barthes que em “Câmara Clara” sugeriu que para entender uma imagem apresentada talvez seja melhor sair da mesa para melhor poder vê-la. [5] Penso então nas pedras nas vidas dos sertanejos do texto Grande Sertão Veredas, penso em Graciliano, em Euclides da Cunha… “O palestino é um forte”, concluo, pegando emprestado de Euclides. Enquanto visitava a exibição meu olhar circulava pelas imagens, alguns pensamentos irritados lembravam das políticas atrozes de Netanyahu [6], e finalmente chegavam de forma resignada e de volta à nossa cultura, com João Cabral de Melo Neto: [7] Outra educação pela pedra: no Sertão (de dentro para fora, e pré-didática). No Sertão a pedra não sabe lecionar, e se lecionasse, não ensinaria nada; lá não se aprende a pedra: lá a pedra, Uma pedra de nascença, entranha a alma.Brooklyn, Nova Iorque Brooklyn Museum Exibição: Este Lugar (This Place) Vários artistas
Este lugar explora a complexidade de Israel e da Cisjordânia, como lugar e metáfora, através dos olhos de doze fotógrafos de renome internacional. Entre 2009 e 2012, doze artistas passaram longos períodos em Israel e na Cisjordânia, livres para abordar os lugares e tópicos como bem escolhessem. Enquanto a exposição apresenta doze perspectivas distintas, vários temas-chave surgiram, como família, identidade, a “casa”, a paisagem e o ambiente. Ao mesmo tempo, é impossível ignorar a presença do conflito israelense-palestino nas imagens, muitas vezes de maneiras que não são imediatamente aparentes. A exposição convida os espectadores a ir além das narrativas polarizadas e das imagens familiares da região encontrados na mídia em geral. O resultado é um exame profundamente humanista e diferenciado que nos lembra o lugar e a função da arte, não como uma ilustração do conflito, mas como uma plataforma para levantar questões e envolver os espectadores em uma conversa mais ampla. [8] [1] http://www.fazalsheikh.org/projects/simpatia/description.php, acesso em 25/5/16. [2] https://slought.org/resources/erasures_memory_trace, acesso em 25/5/16. [3] http://www.fazalsheikh.org/fazal_sheikh/about_the_artist.php, acesso em 25/5/16. [4] http://www.fazalsheikh.org/projects/the_erasure_triology/description.php, acesso em 25/5/16. [5]https://www.google.com/search?client=safari&rls=en&q=camara+clara+roland+barthes+pdf&ie=UTF-8&oe=UTF-8, acesso em 25/5/16. [6] http://www.nytimes.com/2016/05/26/world/middleeast/israel-netanyahu-lieberman.html?_r=0 [7] https://www.valinor.com.br/forum/topico/a-educacao-pela-pedra-joao-cabral-de-melo-neto.100361/, acesso em 25/5/16. [8] Traduzido e adaptado de https://www.brooklynmuseum.org/exhibitions/this_place, acesso em 25/5/16.