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A um dia da eleição israelense de 17 de marco de 2015, o primeiro-ministro Benjamim Netanyahu afronta a comunidade internacional ao dizer que “enquanto eu (ele) for o líder não haverá um Estado Palestino”. [1] Afronta porque a comunidade internacional continua a apoiar a legitimação de um Estado Palestino. Dentre outros indícios, vale lembrar a vitória de dois anos atrás quando a Palestina ganhou na ONU o status de Estado observador não-membro. Apesar de fortes pressões americanas e israelenses, naquela ocasião, a comunidade internacional votou a favor do Estado Palestino, tendo votado contra apenas o Canadá e a República Tcheca (além da Micronésia, do Nauru, do Panamá e das Ilhas Maurício). Além disso, boa parte da opinião pública americana apoia a solução de dois Estados, ou ainda a resolução dos conflitos através de um Estado onde coexistiriam judeus e palestinos. [2] Dito isso, como é que Netanyahu ainda consegue boa margem de apoio político dentre os israelenses e americanos conservadores?
Em parte o fenômeno se explica por duas causas. Em primeiro lugar, pelo que o cientista politico Norman Finkelstein chamou de “Indústria do Holocausto”. Neste trabalho, Finkelstein argumenta que o Estado de Israel consegue legitimar seu belicismo e a ocupação dos territórios palestinos ao acusar de antissemitas aqueles que se opõem à politica externa de Israel. Nas palavras de Finkelstein, “o Estado de Israel usa o Holocausto e o antissemitismo sempre que enfrenta internacionalmente algum problema de relações públicas. É impossível atacar a política externa israelense ou provar que o Holocausto foi explorado para ganhos pessoais sem que se seja acusado de ser antissemita.” [3] Outra explicação para a popularidade de Netanyahu é a crescente propaganda sobre a periculosidade dos programas nucleares do Irã. A histeria provocada rende votos e torna mais eloquente a retórica belicista do primeiro-ministro, especialmente para ouvidos da extrema direita. Em recente entrevista dada por Barak Obama à Reuters [4][5], o presidente americano desfaz as mistificações de Netanyahu, e, de forma sensata, argumenta que o melhor a fazer é tornar transparente e paralisar o programa nuclear iraniano em troca do alívio de sanções econômicas.
Como se sabe, o Congresso Americano é formado por maioria republicana. Não é de se estranhar que a recente visita de Netanyahu aos EUA tenha servido de comício para o israelense, aumentando sua popularidade dias antes das eleições em Israel. Boa sorte para Issac Herzog, líder e candidato da oposição, que até pouco tempo era um mero desconhecido internacionalmente, mas que ainda assim poderá retomar o diálogo com outros países que não sejam os tradicionais aliados de Israel. [6]
Para informações relacionadas às afirmações deste texto, ver os artigos abaixo:
[1] http://www.haaretz.com/news/israel-election-2015/1.647212, acesso em 15/3/2015.
[2] http://www.brookings.edu/~/media/research/files/reports/2014/12/05-american-opinion-poll-israeli-palestinian-conflict-telhami/israel_palestine_key_findings_telhami_final.pdf, acesso em 15/3/2015.
[3] https://revistaforum.com.br/frivoloeprofundo/2013/08/05/norman-finkelstein-uma-gangue-de-malandros-e-canalhas-se-enriqueceu-usando-o-sofrimento-o-martirio-e-a-morte-de-milhares-de-judeus/, acesso em 15/3/2015.
[4] https://www.youtube.com/watch?v=qrJGNBFDs0g, acesso em 15/3/2015.
[5] http://www.reuters.com/article/2015/03/02/us-usa-obama-transcript-idUSKBN0LY2J820150302, acesso em 15/3/2015.
[6] http://www.prospectmagazine.co.uk/world/israeli-elections-what-happens-if-herzog-wins, acesso em 15/3/2015.