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“A luta pela justiça na Palestina está se aproximando de uma encruzilhada. É bem possível (mas ainda longe de estar certo) que o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, vá infligir uma derrota histórica na luta palestina por justiça. [...] Os palestinos enfrentam isolamento sem precedentes. [...] É necessário termos paciência e explicarmos para aqueles que não estão a par dos acontecimentos e da chamada solução de dois Estados de Kerry: que ela viola o direito internacional, uma vez que impõe condições humilhantes aos palestinos.” Norman G. Finkelstein
[caption id="attachment_127" align="alignleft" width="384"] John Kerry: projeto de paz para a Palestina pode ser uma encruzilhada, segundo Norman Finkelstein (Foto: Wikimedia Commons)[/caption] Acontece hoje (17) em Washington um encontro histórico entre o presidente da Autoridade Palestina, Abbud Mahadi, e o primeiro ministro israelense, Benjamin Netanhyahu. No encontro será discutido o “Projeto para Negociação de Paz” (“Framework" for Peace Negotiations) de John Kerry, Secretário de Estado Americano. Abaixo alguns dos pontos que estarão na proposta de Kerry para discussão e redação de um documento que possibilite que as negociações continuem no dia 29 de Abril: - Reconhecimento pelos palestinos do Estado de Israel como um Estado Judeu? - Situação dos assentamentos ilegais israelenses, de acordo com a Corte Internacional de Justiça, em Haifa: Fim da ocupação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e dos assentamentos judeus? - Fronteiras identificáveis: fronteiras decretadas em 1967 (após a Guerra dos 6 Dias)? - O status de Jesuralém: Como ficará dividido o governo e o status da cidade se for criado um Estado Palestino? - Direito de retorno aos refugiados palestinos após a criação do Estado de Israel em 1948 [1] De acordo com Thomas Friedman [2], colunista do New York Times, um dos obstáculos principais para as negociações é a obstinação e resistência do Primeiro Ministro Netanhyahu em reconhecer a necessidade estratégica de um Estado Palestino como sendo benéfico para toda a região. O Primeiro Ministro israelense conta com o fortíssimo lobby da AIPAC (Comitê Americano e Israelense de Assuntos Públicos) para impor condições desfavoráveis aos palestinos. Uma dessas condições é a obrigação de que os palestinos reconheçam o Estado de Israel como Estado Judeu. Tal condição emperra as negociações, fundamentalmente porque um Estado Judeu imediatamente tornaria cidadãos de segunda classe os cerca de 1,5 milhão de refugiados e árabes que vivem na região. Como aponta o analista Rami Khouri, “o conceito de Estado judaico não está definido, ele não leva em conta os palestinos israelenses e não-judeus árabes, não aborda as implicações de tal reconhecimento dos direitos reconhecidos pela ONU de refugiados palestinos, e não tem qualquer base no direito internacional ou em normas diplomáticas relacionadas com a forma como os Estados reconhecem uns aos outros.” [3] Era de se esperar que o líder palestino Mahmoud Abbas se opusesse veementemente a tal proposta, pois tal aceitação negaria o direito de retorno dos refugiados palestinos desde 1948, e, mais ainda, negaria a própria narrativa histórica de muitos dos habitantes que tem vivido na região por tanto tempo - o povo palestino. [4] Além disso, Netanyahu sinalizou na conferência da AIPAC que não pretende abrir mão de assentamentos judeus construídos dentro das fronteiras do muro israelense – considerado ilegal de acordo com Corte Internacional de Justiça, em Haifa. Apesar da ilegalidade de vários dos assentamentos, o Primeiro Ministro Britânico, David Cameron, declarou que não apoiará sanções e boicotes a Israel [5] – como haviam declarado vários dirigentes da UE, como Angela Merkel. Barak Obama falou na necessidade de Netanyahu ceder à boa vontade dos dirigentes palestinos. Contudo, dada a condição “especial” da relação entre EUA e Israel, Obama colocará pressão sobre Abbas para que prossiga com as negociações e aceite condições bastante humilhantes para os palestinos [6]: perda de grande parte das terras aráveis na Cisjordânia; perda do direito de retorno de refugiados após a criação do Estado de Israel; fragmentação do novo Estado Palestino; imposição do reconhecimento do Estado de Israel como Estado Judeu, com possíveis consequências desastrosas para a população não judia em Israel. Como alguns comentaristas afirmam [7], a situação não é boa, e o clima é de pessimismo. Uma das maiores autoridades mundiais no assunto solenemente decretou: O fim da Palestina – como Estado viável econômica e socialmente. [8] * "O fim da Palestina?" é o titulo da comunicação dada por Norman Finkelstein no dia 8 de Março na Inglaterra. Finkelstein gentilmente cedeu o direito para que eu traduza seu texto neste blog – a tradução do texto integral será o próximo post. [1] Obama wades into Palestine-Israel talks. http://www.aljazeera.com/indepth/features/2014/03/obama-wades-into-palestine-israel-talks-201431672835384762.html; acesso em 17/3/14. [2] Why Kerry is Scary. http://www.nytimes.com/2014/01/29/opinion/friedman-why-kerry-is-scary.html?_r=0; acesso em 17/3/14. [3] The problem with “the Jewish State of Israel”. http://www.albawaba.com/news/jewish-state-israel-palestine-558648; acesso em 17/3/14. [4] Israel PM demands recognition of Jewish State. http://www.aljazeera.com/news/americas/2014/03/israel-pm-demands-recognition-jewish-state-20143418424955968.html; acesso em 17/3/14. [5] David Cameron says he would oppose boycott of Israel. http://www.theguardian.com/politics/2014/mar/12/david-cameron-oppose-boycott-israel-speech-knesset; acesso em 17/3/14. [6] Obama to press Abbas on framework deal in White House meeting. http://www.haaretz.com/news/diplomacy-defense/.premium-1.580194; acesso em 17/3/14. [7] Pessimism abounds over Palestinian leader's White House visit http://america.aljazeera.com/articles/2014/3/17/why-pessimism aboundsoverpalestinianleaderswhitehousevisit.html; acesso em 17/3/14. [8] Ver tradução integral do texto “O fim da Palestina” no próximo post neste blog “David Cameron says he would oppose boycott of Israel”
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