“Muito mais cedo do que tarde se abrirão novamente as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor… Tenho a certeza que meu sacrifício não será em vão”, dizia Allende durante a resistência e logo antes de sua morte com o golpe de Estado de Pinochet em 1973.
O Chile havia sido o primeiro país do mundo em que a maioria da população, pelo voto, decidiu trilhar os rumos do socialismo.
Em dois anos, apesar do boicote da burguesia e do imperialismo estadunidense, a classe trabalhadora chilena construía sua história, tinha acesso à educação, saúde, terra, e levaria essa construção até as últimas consequências.
A ditadura matou mais de trinta mil pessoas. Torturou, assassinou, tentou acabar com o sonho de uma sociedade sem classes nem opressões.
Ontem, 25 de outubro, a classe trabalhadora chilena demonstrou que, mais cedo que tarde, novamente suas grandes avenidas seriam passarela para a passagem de quem realmente produz a riqueza daquele país. E que sim, enquanto houver exploração de classes e opressões, haverá luta.
Mas tão importante quanto a vitória é também compreendê-la. A ditadura foi derrotada no plebiscito de 1988, mas o que veio logo após foi uma transição conservadora, em um governo em que a Democracia Cristã, aquela que havia cumprido um papel no golpe de 1973, teve o apoio do partido socialista.
E, no século XXI, o Partido Socialista Chileno, que outrora esteve na Unidade Popular de Allende, governou o país, mas mantendo os pressupostos da transição conservadora, tanto quanto ao Estado Neoliberal, quanto ao autoritarismo. Ou seja, devido à percepção de que era a "política possível" naquele momento, o governo socialista, seja com Lagos seja com Bachelet, manteve os alicerces impostos pelo governo Pinochet. A explosão popular do ano passado, portanto, poderia ter ocorrido num governo do partido socialista.
E o resultado é que o Partido Comunista Chileno atualmente tem respaldo da classe trabalhadora chilena sublevada, enquanto o partido socialista se encontra totalmente dissociado das bases populares.
Que a vitória chilena inspire o PT e a classe trabalhadora brasileira a derrotar qualquer possibilidade de aliança com conservadores ou Neoliberais!
Daniel Valença é professor da graduação e mestrado em Direito da UFERSA, Vice-presidente do PT/RN