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[caption id="attachment_147044" align="alignnone" width="700"] Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil[/caption]
Por Fábio Nogueira* e Joselício Junior (Juninho)**
Frear o socialismo, combater a ideologia de gênero, garantir a legítima defesa dos cidadãos de bem, flexibilizando a posse de arma e maior liberdade para que a polícia possa agir com mais truculência, atacar a laicidade do estado e, obviamente, o compromisso com o livre mercado foi o tom do discurso de posse de Jair Bolsonaro, que ainda teve a coragem de dizer que pretende pacificar e unir o Brasil.
A agressividade do discurso de Bolsonaro traz consequências bastante preocupantes, assim como a diplomação dos parlamentares eleitos no pleito de 2018 tornou-se mais um palco para a ação da extrema direita, que emergiu das urnas com a vitória de Jair Bolsonaro. A execração pública de parlamentares de oposição a Bolsonaro por parlamentares e seus apoiadores de extrema direita nos alerta que este será o modus operandi do bloco de poder liderado pelo ex-capitão da reserva, com apoio dos Estados Unidos e Israel.
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Chama a atenção que o escracho da extrema direita teve como alvo principal parlamentares mulheres e negros. Foi o que aconteceu com Maria do Rosário (PT-RS), Andréia de Jesus e Áurea Carolina (PSOL-MG), Jesus dos Santos e Mônica Seixas, da Bancada Ativista (PSOL-SP), entre outros. Não há aqui, por parte da extrema direita, nenhum diversionismo pré-fabricado em torno de pautas morais e dos costumes que desviem o foco dos agudos problemas econômicos em que está mergulhado o país desde 2015.
Ao contrário, a extrema direita tem um programa econômico ultraneoliberal que tentará aplicar a se tirar pela composição do ministério de Bolsonaro, a formação de sua base parlamentar no Congresso e pelas primeiras medidas anunciadas. É que a vitória de Bolsonaro e da extrema direita é, sobretudo, uma vitória ideológica e é neste terreno que deverá ser enfrentada pelos setores democráticos por meio de frentes, não obstante sua heterogeneidade, as mais amplas possíveis.
A sobrevivência do mito da “democracia racial” explica a surpresa de alguns analistas (e a subestimação política de Bolsonaro de setores da esquerda) com a chegada da extrema direita ao poder central do Brasil. Apesar de nossa formação social ter sido construída a partir do escravismo (do genocídio e escravização dos povos originários e negros) e do patriarcalismo (que estruturou as desigualdades de gênero e consagrou o poder masculino como regra em nossa sociedade), o paternalismo que caracteriza nossa cultura política preservou a ideia do país como avesso a práticas abertamente reacionárias, não obstante nosso histórico de ditaduras, repressão aos movimentos populares e déficit democrático.
Não obstante importância dos partidos políticos de esquerda e centro esquerda na oposição parlamentar, o que o escracho direitista, durante as diplomações, e o discurso de posse deixam patente é a centralidade que as frentes de organizações de mulheres e do movimento negro terão no processo de resistência democrática às medidas do governo Bolsonaro. As articulações permanentes destes sujeitos – disputando valores contra-hegemônicos no terreno da sociedade civil – como vanguarda social e política deve construir uma identidade projetiva mais forte e menos difusa para nuclear um programa de reformas democráticas que, nas condições atuais do país hoje, avancem para uma sociedade que supere o sistema de dominação/exploração capitalista. O desafio é, portanto, superar os atuais métodos de enfrentamento político, estabelecer o acolhimento e o autocuidado como princípios estratégicos e fortalecer os vínculos com as organizações do movimento popular e do mundo do trabalho.
*Fábio Nogueira é sociólogo, presidente do PSOL Bahia e militante do Círculo Palmarino; **Joselício Junior (Juninho) é jornalista, presidente do PSOL São Paulo e militante do Círculo Palmarino
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