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“Terrível é a tentação do bem”, disse uma vez Bertolt Brecht. Dando-me a liberdade de afastar-me de Sartre para aproximar-me de Zizek, arrisco a dizer que “fazer o bem” é parte da nossa filosofia “cristã ateia”.
A história do humor Ocidental carrega elementos clássicos que podemos chamar de “fórmulas do riso”. Rimos, por exemplo, quando o ladrão é roubado, ou quando a nobreza se transforma em baixeza. Essa é uma característica básica do riso no século XX. “Não se trata mais do riso da deformidade, mas do riso do desconhecido, da surpresa, daquilo que inverte subitamente as concepções estáveis do mundo”, como destaca a historiadora Verena Alberti. E o atentado tão relatado nos últimos dias não foi de um homem que pregava a matança e o ódio?
Mas não vamos rir do acontecimento, seria crueldade de nossa parte, antiético. Embora o tempo conturbado nos permita ser maus. Cito novamente o dramaturgo Bertolt Brecht: “Também gostaria de ser um sábio. Os livros antigos nos falam de sabedoria: é quedar-se afastado das lutas do mundo e, sem temores, deixar correr o breve tempo. Mas evitar a violência, retribuir o mal com o bem, não satisfazer os desejos, antes esquecê-los é o que chamam sabedoria. E eu não posso fazê-lo. Realmente, vivemos tempos sombrios”.
Eles já começaram a procriar o ódio a partir da fatídica facada, forjando imagens e atribuindo o atentado ao PT. Mas é pura crueldade política da parte deles. O PT não precisa arrancar votos de Bolsonaro. Lula quase que ganha no primeiro turno. Se o ato violento foi a mando de alguém, devemos ter em mente que o candidato que sonha com o eleitorado conservador é Alckmin. Todo mundo sabe disso. Basta ver a propaganda eleitoral gratuita. Os ataques são diretos.
Mas a direita quer ver a esquerda aniquilada. E vão fazer de tudo para vencer.
Se rir de tudo é exagero, não ter pena seria adequado. E se não ter pena é se afastar da bondade, tudo não passa de um sintoma dos tempos sombrios que vivemos. Não ter pena da injustiça, da baixeza ética, nos tornaria realmente maus? Brecht mais uma vez: “E, contudo, sabemos que também o ódio contra a baixeza endurece as feições; que também a cólera contra a injustiça enrouquece a voz. Ah, os que quisemos preparar terreno para a bondade não pudemos ser bons”.
O ódio contra a vilania, contra quem quer distribuir armas para o assassínio em massa, contra quem quer arrancar de nós a esperança, nos transformou em seres impiedosos. Não podemos ter compaixão contra quem quer nos arrancar a compaixão em nome da propriedade.
Eles querem nos acusar do que eles mesmos fizeram. Só que não sabem eles que serão os mais prejudicados. Alckmin não conseguirá mais tirar os votos do famigerado mito e a Globo, agora vendo o seu queridinho na penumbra vai ter apoiar quem vinha detratando, pois o candidato do PSL é o único dos candidatos com potencial de ir para o segundo turno disposto a manter o “projeto Temer” que ela tanto defende.
Mas a patifaria é um dom dessa laia. Se antes odiavam-se mutuamente, agora aparecerão como velhos amigos. A esquerda deve, portanto, prender-se ainda mais ao seu eleitorado, isto é, a maioria. Falar para os convertidos, não deixar que sejam contaminados pelo veneno inebriante do fascismo.
É preciso conscientizar os trabalhadores, os 40% do eleitorado que não quer perder os seus direitos conquistados na marra, na peleja, honestamente e respeitando os preceitos constitucionais. Não temos tempo para ter pena. Se os que se dizem cristãos não conseguem perdoar os seus inimigos, não seremos nós, cristãos ateus, que não querem deixar morrer o legado deixado pelo cristianismo, como a atenção aos desfavorecidos, a justiça etc., os que devem fazer. Não podemos dar a César o que é de César. Queremos participar e impedir que qualquer tirano se aproveite de nós.
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