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Tivemos, no dia 6, mais uma derrota da nossa Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo. Além de problemas ocasionais da equipe ou do treinador – ou de momento, no jogo – os brasileiros perguntam o que está acontecendo, nos últimos tempos, com o nosso futebol. Não com o nosso futebol em geral, mas com o desempenho da nossa Seleção nas Copas do Mundo – a competição que sempre uniu, e sempre une, flamenguistas e botafoguenses, corintianos e palmeirenses, colorados e gremistas, e assim por diante, na mesma torcida.
Pois, nossa Seleção, queiramos ou não – e, no nosso caso, nós queremos – é uma parte da nossa identidade nacional.
Daí, o trauma de 1950, quando perdemos, na final, para a brava (em mais de um sentido) seleção uruguaia. Ou a festa de 1958, quando ganhamos na Suécia (e, por sinal, ganhamos da Suécia).
Melhor ainda, a festa de 1962, o bicampeonato mundial, quando, sob aclamação popular, o presidente João Goulart desfilou, com a Seleção, que vencera a Tchecoslováquia na final da Copa do Chile, a 17 de junho.
[caption id="attachment_136300" align="alignnone" width="870"] Foto: Arquivo pessoal[/caption]
E, até mesmo sob a ditadura, a vitória na Copa de 70, disputada no México.
Poderíamos acrescentar as duas outras copas que vencemos, as de 1994 e 2002, porém, as três primeiras foram aquelas que marcaram nosso futebol e o consolidaram como um elemento da nossa nacionalidade.
Evidentemente, não somos obrigados a ganhar todas as Copas do Mundo – embora, até que seria muito bom, mas, provavelmente, tornaria as Copas algo monótonas.
Porém, quando completamos quatro copas sem chegar à final, algo parece estar errado.
Em 1958, em 1962 e em 1970 tínhamos uma escola de futebol, no mesmo sentido em que se usa a palavra “escola” para definir certas tendências da arte e da literatura.
Agora, com quase todos os atletas da Seleção jogando em países estrangeiros – e, uma parte deles, desde muito jovens – essa “escola brasileira” de futebol está deixando de se expressar onde ela é mais necessária: na Seleção.
Não se trata, em nossa opinião, de um problema futebolístico – ou apenas futebolístico.
O enfraquecimento econômico do país, devido a políticas de devastação neoliberais, desde 1990, teve, como consequência, a drenagem de profissionais para fora do país.
Isso foi verdade em todas as áreas – e até onde não havia, propriamente, uma “área”: o Brasil, que sempre foi receptor de migrantes, vindos de países os mais distantes ou mais próximos, transformou-se em exportador de gente, a maior parte para trabalho menos qualificado do que, se a política econômica fosse outra, poderiam encontrar em nosso país.
Hoje, existem brasileiros que, aqui, eram estudantes de engenharia ou de matemática, lavando pratos – ou coisa que o valha - em Boston ou Cleveland.
O que o Brasil ganha com isso?
Somente entre 2011 e 2017, as Declarações de Saída Definitiva do país aumentaram em 160%, segundo a Receita Federal. Mas essas são as declarações oficiais – e as declarações daqueles que têm bens e renda.
A maior parte dos que saem do país não faz essa declaração, porque não tem bens e renda a declarar - ou até porque a sua situação em outros países, no início, é, muitas vezes, irregular.
Em uma situação na qual os 10% da população que têm maiores rendimentos concentram 43,3% dos rendimentos do país (e os rendimentos desses 10% são superiores aos de 80% dos outros), pode-se sentir porque, hoje, há 3 milhões de brasileiros residindo em outros países, segundo o Ministério das Relações Exteriores.
Por esses dados vê-se que a situação é calamitosa. No entanto, é pior. Na mesma PNAD Contínua do IBGE, de onde extraímos essas informações, consta que 39,8% da população em idade de trabalhar, não têm qualquer rendimento (pela mesma pesquisa sabe-se que, entre aqueles que têm rendimento, 1% da população recebe 36,1 vezes mais que metade da população com menores rendimentos).
Sempre alguém poderá dizer que essa pauperização brutal, que afeta a maior parte da população, nada tem a ver com a drenagem de jogadores de futebol para fora do país, pois estes ganham grandes salários etc.
Logo, para esses, a drenagem de jogadores deve acontecer porque o mundo é assim mesmo...
Porém, a mercantilização alucinada (e internacional) do esporte é a outra face - ou, pelo menos, uma delas - da miséria interna.
Nem Garrincha nem Pelé – este, exceto depois de sua aposentadoria no Brasil – jogaram no exterior. Nem Nílton Santos ou Zito ou Gérson.
O único caso desse tipo foi Didi, que ficou um ano no Real Madrid, mas voltou para o Rio de Janeiro – e para o Botafogo – depois de uma briga com o hispano-argentino Alfredo Di Stéfano.
Reciprocamente, quando, na Copa de 58, se soube que Mazzola negociava sua transferência para a Itália, o técnico Vicente Feola retirou-o do time - em que, até então, fora titular -, substituindo-o por Vavá.
O Brasil, nessa época, conseguia manter seus jogadores no país. Os campeonatos dentro do país eram a base do estilo – e, neles, estava a totalidade da escalação do selecionado brasileiro.
Essa Copa demonstrou a mediocrização a que conduziu o chamado “futebol globalizado”, esse que leva alguns brasileiros a torcer pelo Barcelona ou Ajax, que conhecem pela televisão, ao invés de algum time brasileiro.
Não é um problema, como a Copa mostrou, apenas do Brasil.
No entanto, a ideia de formar seleções de futebol sempre significou mostrar as várias maneiras nacionais de se jogar futebol. É necessário que exista uma base nacional para formar uma Seleção nacional, o que parece óbvio.
Nenhum país do mundo avançou tanto em desenvolver um modo nacional de jogar, uma escola própria de futebol, quanto o Brasil, desde a época de Leônidas e Domingos da Guia.
Mas é difícil manter esse desenvolvimento, quando cada jogador convocado exerce a sua profissão em um país diferente do mundo (ou quase isso).
Não pretendemos, aqui, ter esgotado os problemas da nossa Seleção – muito menos tê-los resolvido.
Apenas apontamos que, no futebol, tal como em outros terrenos, a destruição a que o país está submetido há décadas, está ameaçando avanços que nós tínhamos conquistado.