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COLUNISTAS
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A greve dos caminhoneiros, que hoje, sexta-feira (25), entra em seu quinto dia, além de colocar o Brasil à beira de um colapso, desnudou a crise profunda que se abate sobre a esquerda brasileira. As teses que correm as redes sociais são uma prova disso.
Algumas delas:
- Em um primeiro momento, setores da esquerda correram para rechaçar a paralisação dos caminhoneiros. Sentimento compreensível, pois, uma greve semelhante – que apoiava o impeachment da presidenta Dilma – abalou o governo e ajudou na concretização do golpe;
- “é um locaute”, “é um ato comandado pelo patronato”;
- “é a segunda parte de junho de 2013”, “vai levar o país para mais um golpe”;
- Outra parcela da esquerda declarou apoio e disse tratar-se de um movimento legítimo de trabalhadores e que os setores populares organizados deveriam endossar e disputar a direção da greve.
- “Este ato é para legitimar uma intervenção militar”.
Essas teses são as que mais circulam pelas redes.
Pegando o referencial de junho de 2013, temos aqui uma inversão: se, nos atos contra o aumento das passagens do transporte público, posteriormente, a demanda principal deu lugar a uma difusão de pautas, hoje é no campo dos movimentos e partidos que se dá essa difusão.
A real é que ninguém sabe muito bem o que fazer. Até mesmo os apoios ao movimento são um tanto tímidos e receosos de estarem apoiando uma canoa furada que sim, visa estabelecer o caos no Brasil para que as forças militares assumam o comando para colocar o país nos eixos, mesmo argumento utilizado para o golpe de 1964.
As principais centrais sindicais do Brasil não declararam apoio diretamente ao movimento, mas soltaram notas sobre a política de preços adotada pelo governo Temer, fato que levou a paralisação dos caminheiros. Parte da esquerda considera esta atitude acertada, outra não e afirma que os grupos mais tradicionais do campo popular repetem o erro de 2013 ao não disputar a narrativa com a direita, assim, esta teria caminho livre para coordenar o ato.
Aqui há duas semelhanças com 2013:
- Os caminhoneiros, em sua maioria, se comunicam e se organizam via Whatsapp. Há bastante independência em torno de sindicatos e partidos. Vide que não houve acordo com o governo. O mesmo se deu com os movimentos de 2013: horizontais e sem um rosto para chamar de “liderança”.
- Assim como em 2013, a esquerda clássica rechaça, faz que não vê e, quem sabe, no fim de tudo faça algum comentário sobre. Do outro lado, a esquerda mais jovem declara apoio e tenta comunicação com o movimento e é criticada pela irmã mais velha.
Daí que é interessante resgatarmos uma tese de 2013: diante do arrefecimento dos atos, alguns pesquisadores e ativistas declararam que levaríamos muito tempo pra compreender 2013 e que ele não tinha terminado.
Uma tese para chamar de minha: junho de 2013, a derrota acachapante do PT na eleição de 2016, a deposição de Dilma Rousseff e a recente prisão de Lula foi e está sendo uma hecatombe no PT e nos movimentos à esquerda que orbitam em torno do Partido dos Trabalhadores. Daí que ficamos diante de uma narrativa confusa entre #LulaLivre e apoiar ou não os caminhoneiros.
A estratégia de manter Lula candidato tem se mostrado acertada mas, ao mesmo tempo, tem criado uma esquizofrenia nas conversas de bastidores: a fala é #LulaLivre, mas quem será candidato? Questiona-se.
Se o Partido dos Trabalhadores solta uma nota em apoio ao referido movimento, haveria toda uma narrativa coesa sobre. O não pronunciamento do PT sobre o movimento dos caminhoneiros e a ansiedade e perda de localização que isso gera, só mostra a força que o partido ainda exerce sobre boa parte da esquerda, jovem ou clássica.
Assim como em 2013, não temos a mínima ideia aonde vai desembocar a paralisação dos caminhoneiros, que já começa a ganhar a adesão de outros setores. Mas, as teses sobre... estas não faltam e outras vão surgir.