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Os atentados contra a Caravana Lula, no sul do Brasil, assim como a covarde execução da vereadora Marielle Franco, do PSOL e o motorista Anderson Gomes, bem como o assassinato de Paulo Sérgio Almeida Nascimento, líder comunitário da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia (Cainquiama), que denunciava crimes ambientais em Barcarena, Pará, não são fatos isolados; eles fazem parte de uma escalada fascista que, a cada dia, eleva o seu padrão de violência. Esses fatos aconteceram entre 12 e 27 de março, de sul ao norte, com diferença de apenas quinze dias e fazem parte de uma urdida conspiração contra a nação brasileira e cuja escalada precisa ser interrompida enquanto há tempo. São mensagens ameaçadoras e que precisam ser interpretadas e respondidas.
Não há espaço para medo ou vacilações!
No Brasil, um dos países mais desiguais e injustos do mundo, o desprezo à vida e a condescendência com a violência têm se tornado padrão. Isso vem de nossas raízes históricas, do extermínio dos povos indígenas e do roubo de suas terras, do holocausto da escravidão, da exploração dos imigrantes, do desprezo aos trabalhadores e migrantes, do machismo e de todas as fobias contra os mais fracos e diferentes. Séculos em que nos cultivamos como uma nação covarde e violenta, que fala fino com os poderosos e grosso com os humildes, em que submeter pessoas ao suplício da tortura foi sendo naturalizado no exercício da escravidão, e assim passamos essa prática aos tempos atuais. Também naturalizamos, como se normal fosse, a miséria, o abandono e a exploração. Destruímos as florestas, matamos animais, envenenamos o ar e as águas (que são muitas, ou, eram muitas). Defecamos na própria água que bebemos. Estes somos nós. Mas também somos o povo do Motirô, do Ubuntu, da roda, do círculo, da solidariedade, da partilha, da multicor. Somos o povo da resistência, da coragem, da Confederação dos Tamoios, de Palmares, dos Cabanos, de Canudos, do Caldeirão. Somos o povo da criatividade, da inventividade, da generosidade, pois sem criatividade, sem inventividade, sem generosidade e colaboração, jamais teríamos conseguido sobreviver a tantas injustiças e iniquidades. Precisamos redescobrir este povo bom e corajoso escondido em nós.
Precisamos enfrentar as provocações fascistas já!
Brasil, terra de riquezas mil, está sendo cobiçado, dilacerado, gananciado. Cada vez mais nos querem dependentes, submissos, escravizados, imersos na ignorância e na apatia. Querem nossas águas, nosso sol, nossa lua, nossas terras, nossas matas, nosso subsolo, nossos minerais. E, para impor tamanha espoliação, nos cultivaram no exercício do ódio, da infâmia, da mentira, da desunião e da indiferença. Tem sido tanto ódio, tanta infâmia, tanta mentira e desunião, que agora estamos nesta situação em que o desprezo à vida se torna algo natural. Assim, só iremos nos destruir, até nos transformarmos em uma imensa Síria. É o que querem e é o que estão alimentando, buscam nos tornar presa fácil, pela desunião e cizânia, enfraquecendo o povo e sua capacidade de resistência. Manipulam os sentidos e as sensações, incensam afetos tristes, fomentando o medo, o individualismo e do desamor, a partir do ódio e da aversão ao diferente.
Há que reconhecer, as forças do fascismo e do roubo à nação, as forças da espoliação, que nem brasileiras são, fazendo-se impor por prepostos, têm obtido êxito em sua empreitada, distorcendo até mesmo o sentido de amor à pátria. Os que os seguem se declaram patriotas, mas são entreguistas, gente que despreza o próprio país e o próprio povo, que se projeta no colonizador, a ponto de bater continência para bandeira de potência imperialista. Amor ao país é outra coisa, é ter sentido de amorosidade, é gostar do povo brasileiro, é guardar e compartilhar as riquezas da nação pensando sempre nos interesses da nação, das pessoas que vivem aqui e dos que estão por vir. Amor ao Brasil é resgatar o sentido de Brasilidade, pois só com Brasilidade enfrentaremos o desamor fascista.
As balas que mataram Paulo Sérgio, Marielle e Anderson, são as mesmas que perfuraram o ônibus da Caravana Lula. As balas do horror fascista também são as que mataram 58 defensores de direitos humanos em 2017, fazendo com que o Brasil concentrasse 75% de todos os homicídios de ativistas de direitos humanos na América Latina. Para os que apertaram os gatilhos, quem defende o meio ambiente, o direito à terra para quem nela queria trabalhar, lideranças indígenas e quilombolas, os líderes comunitários e as pessoas que defendem os direitos das mulheres, dos LGBT e que combatem a exploração sexual, são pessoas a serem exterminadas, executadas; assim como jornalistas (48 assassinados em 2017) atuando em áreas de conflito, principalmente dominadas pelo tráfico de drogas; também os policiais honestos, igualmente vítimas de um Sistema cujo poder é baseado na lógica da morte.
O necropoder não irá parar. Isso porque quem puxa o gatilho não é somente aquele que segura a arma, é também aquele que incentiva o porte da arma, a cultura da violência, o ódio à diversidade, o individualismo egoísta, o elogio à ganância, a competição sem princípios, a acumulação sem limites. Quem puxou o gatilho é quem destila ódio e dissemina mentiras, é quem se compraz com a cizânia, com a violência, com a exploração. São muitos a puxarem o gatilho. E não venham dizer covardemente que os que sofreram os atentados são os responsáveis pela violência do qual são vítimas. Não venham defender terroristas fascistas com o vil argumento de que “As vítimas estão colhendo o que plantaram”, como disse, de forma abjeta, o governador de São Paulo, mesmo que depois tenha voltado atrás em sua afirmação. Não venham a justificar o terror fascista com o argumento de que a Caravana Lula foi uma provocação, como se as pessoas tivessem que se calar quando se consideram vítimas de injustiças e manipulações, mesmo quando praticadas em nome da Justiça. Não venham impedir a atividade política e a livre expressão, como se essas tivessem que pedir permissão para acontecer. Os que puxam os gatilhos são aqueles que se calam, e, sobretudo, aqueles que incentivam, que instigam. Semana passada, esteve em Curitiba o candidato da tortura e da cultura das armas, como sempre, instigando mais violência, incluindo gestos em que atirava na cabeça do ex-presidente Lula. São ações covardes a ararem o ambiente para mais cizânia, sobretudo nesta semana em que o Supremo Tribunal Federal julga o habeas corpus para o ex-presidente Lula. Querem guerra e a instigam.
Todo o cuidado é pouco, estejamos vigilantes, pois aqueles que, covardemente, “querem continuar a política por outros meios”, conforme definiu Carl Von Clausewitz, perderam todos os escrúpulos e, a continuar a escalada do terrorismo fascista no Brasil, não será surpresa se, em breve, estivermos mergulhados na mais tenebrosa treva. A Besta Fascista corre solta em nosso país, que tenhamos capacidade e coragem para contê-la enquanto há tempo!