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Horror, horror, horror, horrorismo. Adriana Cavarero, filósofa política, condensa na palavra "horrorismo" a captação da experiência da violência, sob o ponto de vista das vítimas. Acabo de ler o depoimento de um coronel da PM, Washington Lee Abe, questionando a comoção, questionando porque Marielle se transformou numa mártir.
É incrível como a elite militar é incapaz de pensar em termos humanos. Em termo das vítimas, das minorias, dos mais frágeis, dos silenciados, é um horrorismo, e a violação prossegue, após a morte, crescendo, tentando desfigurar a representação da vereadora, negra, da favela, cria da Maré, como se definia, mas também lésbica, e defensora dos Direitos Humanos.
Na fundamentada lógica da ofensa de desfiguração e massacre, a intervenção do Rio de Janeiro mostra sua cara mais grotesca, as vítimas, aos milhares, indefesas e vulneráveis. O recado é para a favela calar-se. E o morro tem que descer, gritando, enquanto o mundo ainda está sensível pela dor. Enquanto o horror, o extermínio e o massacre, organizado pelos canalhas, tirou todos da comodidade, e mostrou a face mais covarde dos golpistas e interventores.
Quem sujou as mãos de sangue deseja calar o povo, mas este, ontem, foi à Cinelândia e cantou a Internacional, cantou e distribuiu flores. As flores voltaram, só para lembrar que não falei delas. Os fascistas não se calaram, mas nós o calamos nos cantos e não vamos mais ouvi-los. Eles postaram abusivos comentários comemorando a morte da vereadora linda, e nós o chamamos de canalhas, são canalhas. Os covardes e canalhas vão ser vencidos, no grito e no voto. Não passarão.
Enquanto isso, a polícia tem pressa em achar talvez um bode expiatório. Cabe a nós todas vigiar, vigiar muito. Por todas nós. Agora que Marielle se foi, é com Marieu, Marivocê, Maritodasnós.