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Os jornais do Rio de Janeiro – o Estado entregue a Luiz Fernando Pezão, uma espécie de contínuo de Sérgio Cabral e a cidade nas mãos de um neopentecostal tão descolado da realidade que acaba de pedir aos cariocas que não bebam muito no Carnaval (!!!!!) – estampam, nesta quarta-feira, 07 de fevereiro de 2018, os rostos de duas crianças (mais duas crianças, outras duas crianças, quantas crianças mais serão assassinadas?!) mortas pelo Estado – qualquer outra afirmação que não essa (mortas pelo Estado) deve ser considerada pano quente.
Quando Leonel de Moura Brizola governou o Estado do Rio de Janeiro (em duas oportunidades embora eu queira referir-me com mais ênfase a seu primeiro governo), após espetacular vitória em eleição direta no ano de 1982, quando a revista Veja o considerava um “(...) candidato sem chances do PDT ao Palácio Guanabara (...)”, algumas de suas medidas desagradaram de maneira frontal a elite mais nojenta do Estado e do País.
Brizola encampou as linhas de ônibus, criou a CTC (Companhia de Transportes Coletivos do Rio de Janeiro), criou linhas de ônibus que ligavam diretamente a zona Norte à zona Sul (sobre o ódio da elite que perdura até hoje pela mesmíssima razão recomendo ouvir “As Caravanas”, de Chico Buarque), ao lado de Darcy Ribeiro construiu 500 CIEPs (escolas em tempo integral) e, estou sendo propositalmente superficial, determinou a seu secretário de Justiça que não mais permitisse a invasão das favelas por policiais sem ordem judicial. Lembro-me perfeitamente – eu que sempre fui brizolista – de sua figura carismática bradando diante dos microfones da imprensa atônita com a medida (ela, a imprensa, sempre servil à elite e à classe média mais preconceituosa e repugnante): “Se a polícia não arromba os portais das mansões, se a polícia não mete o coturno na porta dos apartamentos da orla da zona Sul onde residem os barões do tráfico, se não incomoda os filhos da elite!, também não o fará com a população mais pobre, mais carente, trabalhadora e honesta do Rio de Janeiro”. As aspas são minhas, o discurso é dele sob direção da minha memória, portanto não se trata de transcrição literal.
Contra as forças mais poderosas do Estado e do País, tendo à frente o cogumelo de poder que é a Rede Globo, Brizola não conseguiu fazer seu sucessor, Darcy Ribeiro. Elegeu-se – vejam como a roda da História é implacável! – Moreira Franco, hoje um dos asseclas de Michel Temer, um homem a serviço do desmonte do Estado, das privatizações, o mesmo Gato Angorá que Brizola denunciava. E é isso o que eu queria lhes dizer: Moreira Franco nomeou seu Secretário de Educação um homem do Poder Judiciário (hoje partícipe do golpe como é sabido e consabido), Carlos Alberto Menezes Direito a quem deu uma missão: destruir os CIEPs por conta de tudo que os mesmos simbolizavam: mais conhecidos como Brizolões, os CIEPs atendiam (com alto nível de excelência), em tempo integral, as crianças que hoje (e há anos) são assassinadas sob um nojento, cínico, conivente e ensurdecedor silêncio das elites e da classe média.
Porque as nossas elites, a nossa classe média, têm ódio e nojo do povo. De preto. De pobre. De favela (que eles chamam de comunidade pra aquietar seus corações endurecidos e enregelados pelo preconceito). Qualquer outra afirmação que não essa deve ser considerada pano quente.
Por isso, em 1986, comemoraram a derrota de Brizola – que durante seus quatro anos de governo deu, à população mais necessitada do Rio de Janeiro, dignidade (algo, guardadas com cuidado as devidas proporções, que Lula fez durante seus dois governos em nível nacional), e por isso a comemoração dessa mesma gente diante da perseguição implacável sofrida pelo ex-presidente.
Não só por isso o Brasil, mais que nunca, precisa de Brizola. O homem que impediu um golpe em 1961 praticamente sozinho. O homem que, depois de 15 anos de exílio, venceu eleição direta para Governador do Estado do Rio de Janeiro em 1982 (governando o Estado de 1983 a 1987), feito que repetiria depois, em 1990 (governando de 1991 a 1994). O homem que fez vergar a Rede Globo quando ganhou direito de resposta, episódio épico da História do Brasil. Um brasileiro máximo. Um patriota, acima de tudo. Volto ao tema porque, repito, não só por isso precisamos dele.
Até.
*Eduardo Goldenberg, nascido em 27 de abril de 1969 na Tijuca (Rio de Janeiro, RJ), de frente pro morro do Borel, num domingo. Advogado (PUC/RJ), publicou “Meu lar é o botequim”, em 2009, apresentado por Fausto Wolff e prefaciado por Aldir Blanc. Salgueirense, rubro-negro, mantém no YouTube o canal “Botecos do Edu” e o blog “Buteco do Edu”
Foto: PDT/Divulgação