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Os olhos do Brasil – e de parte do mundo – estão, mais uma vez, voltados para a festa que é reconhecida como a maior festa popular do mundo, o Carnaval. E, sendo bastante pontual, voltados para a avenida Marquês de Sapucaí, para o Sambódromo, avenida hoje oficialmente nominada como Passarela Professor Darcy Ribeiro.
Quando Leonel de Moura Brizola governou o Estado do Rio de Janeiro (em duas oportunidades embora eu queira, como no primeiro dos três textos que escreverei sobre Brizola, referir-me com mais ênfase a seu primeiro governo), com o auxílio de Darcy Ribeiro (seu vice-governador) e com projeto de Oscar Niemeyer, construiu o Sambódromo em pouco mais de quatro meses. Como sempre, uma perseguição implacável que jamais cessou, a Rede Globo, o jornal O Globo e todo o cogumelo de poder comandados pelos Marinho, boicotaram a obra, boicotaram a inauguração, tentaram de todo modo amedrontar a população espalhando notícias inverídicas (as hoje propaladas fake news) pondo em xeque a segurança da estrutura e das pessoas que, naquele ano, iriam assistir ao primeiro desfile das escolas de samba na nova passarela.
Vale breve pausa para dizer que, durante todo o resto do ano, o Sambódromo (seus camarotes) se transformava na maior escola pública do Brasil, em tempo integral (os CIEPs) – mais uma ousadia de Brizola que a elite jamais perdoou.
Carnaval de 1984, inauguração do Sambódromo. Pela primeira vez, buscando o conforto coletivo, os desfiles iriam acontecer em dois dias, domingo e segunda-feira, e não mais num único dia, cansativo e exaustivo, durando às vezes mais de 24 horas seguidas. A Rede Globo, capitaneada pelo todo-poderoso José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni – o mesmo que reconheceu em entrevista, anos depois, a edição do debate presidencial de 1989 entre Fernando Collor e Lula – manifestou-se publicamente contra a mudança alegando, dentre tantos empecilhos, que a revolução trazida pelo Sambódromo atrapalharia sua grade de programação. Brizola se valeu disso e ofereceu os direitos de transmissão com exclusividade para a TV Manchete, que transmitiu o primeiro desfile do Sambódromo, vencido pela Estação Primeira de Mangueira.
Desde então o Sambódromo é palco de manifestações impressionantes das Escolas de Samba. Em fevereiro de 2017 o professor Luiz Antonio Simas, em entrevista ao Caderno Cultura do Estadão, disse: “(...) o carnaval não é apenas uma festa do esquecimento. Longe de ser alienante, ele é talvez a mais politizada das festas brasileiras. Aquela em que de forma mais evidente, ao longo da nossa história, as relações tensas e intensas entre as diferentes camadas sociais disputam as cidades e criam formas de vida”.
E o que acabamos de ver neste carnaval de 2018? O Brasil, ainda sob os nefastos efeitos do golpe, assistiu embasbacado ao desfile da G.R.E.S. Paraíso do Tuiuti criticando, de forma direta, o (des)governo de Michel Temer, o desmonte do Estado Social e da CLT e a destruição acelerada de conquistas históricas dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros.
O Carnaval, festa tensa e intensa por tudo o que guarda de explosão contida durante o ano inteiro, neste 2018, mostra-se como válvula de escape dos gritos desesperados de um povo que – as evidências escancaram isso – parece cansado de ser enganado.
Parece – e é inevitável lembrar do discurso de Brizola no último debate de 1989 – que o povo está a dizer um não rotundo à Rede Globo, à elite mais sórdida do Brasil, ao Poder Judiciário afundado em escândalos e em privilégios que somente uma casta consegue manter intactos.
São muitos os sinais que vêm de todos os cantos do Brasil. E, mais fortes, do Rio de Janeiro – que Brizola chamava, sempre, de tambor que ressoa por todo o Brasil.
Os poderosos, a elite, o empresariado insaciável, os rentistas, eles que não façam ouvidos de mouco. São muitos, repito, os sinais. A hora da virada pode estar chegando.
E não canso de repetir: não só por isso o Brasil, mais que nunca, precisa de Brizola, da força impressionante de Brizola, de sua coerência, de seu vigor e de sua visão de mundo.
Até.