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Da denúncia ao anúncio.
Esta é uma das frases mais profundas da obra de Paulo Freire.
E falo aqui como alguém que não é freireana, ainda que respeite sua grandiosidade teórica.
Como marxista, sempre tive alguns pontos de divergência com a formulação de Paulo Freire, assentada no cristianismo e idealismo.
Ainda assim, nestes tempos turvos é também dele que bebo e me aconselho.
E pergunto: que efeito concreto estamos provocando com a avalanche de denúncias e memes no tecido social?
Para além da catarse- entre nós mesmos- o que a denúncia sem o anúncio (plano de lutas, alternativas concretas) pode significar para quem acorda para trabalhar às 5h da manhã e volta às 21h?
Temos, sim, que denunciar. Mas, temos, fundamentalmente, que despertar sonhos e esperanças na política concreta.
Porque se não o fizermos, no plano da materialidade, as pessoas buscarão suas esperanças na metafísica, no fundamentalismo religioso, nos gurus.
E não podemos culpa-los por isto.
A vida é feita de cultivo de esperanças.
Temos de nos perguntar por que não somos nós que estamos conseguindo canalizar esta necessidade.
Onde estamos falhando? O que podemos fazer para mudar e alterar rumos?
Como dizia Gramsci: "O pessimismo da inteligência precisa fecundar o entusiasmo da vontade".