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[caption id="attachment_144831" align="alignnone" width="700"] Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil[/caption]
No dia 20 de novembro, ocorreu a XV Marcha da Consciência Negra em São Paulo. Nas principais cidades do país, o movimento negro – como já é tradição – celebra o dia da consciência negra, com manifestações de rua lembrando a história de luta do povo negro contra o racismo e reivindicando políticas públicas de combate ao racismo.
Neste ano, o lema da marcha em São Paulo foi: “Em defesa da democracia, dos direitos e contra o fascismo”. Um lema conectado à conjuntura atual em que os ataques aos direitos sociais e democráticos se intensificaram fortalecidos pela eleição recente do candidato de extrema direita à presidência da República.
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Desde o golpe de agosto de 2016, a população negra tem sido a principal vítima dos retrocessos políticos. Os cortes nos programas sociais impostos pela emenda constitucional 55, a crise econômica que tem agravado o desemprego e a tendência a solucionar o problema social aumentando a violência de Estado atingem, diretamente, os moradores dos bairros periféricos e todos aqueles que estão na base da pirâmide social. E estes, não por acaso, são na sua esmagadora maioria, mulheres negras e homens negros.
Outro duro golpe que atingiu principalmente mulheres negras do trabalho doméstico foi a aprovação da reforma trabalhista, que praticamente acabou com a CLT. Isto pouco tempo depois do movimento negro ter conquistado a extensão dos direitos trabalhistas para as trabalhadoras domésticas.
Este é o cenário. E que tende a piorar com a eleição de um presidente que já afirmou diversas vezes que é contra qualquer política de ação afirmativa, que quilombolas são “vagabundos”, que negros e negras se pesam por arrobas (como bichos) e que falar em racismo é “coitadismo e vitimismo”.
Projetos defendidos pelo presidente eleito, como o “Escola sem Partido”, atingirão diretamente conquistas recentes como as políticas para educação das relações étnicorraciais.
E também a defesa enfática de intensificação da repressão policial – vários discursos de correligionários seus de que a polícia tem que atirar para matar – aumentará ainda mais o genocídio da população negra nas periferias.
Estamos falando do segmento social que será mais atingido pela extrema direita.
Aí é estranho que na XV Marcha da Consciência Negra, realizada no dia 20 de novembro em São Paulo, nenhum parlamentar ou presidente dos partidos progressistas estivessem presentes.
Mano Brown, em um vídeo que circulou na internet amplamente um pouco antes do segundo turno das eleições, alertou que se a esquerda não dialogasse com a periferia iria ser derrotada.
Parece que o recado não foi ouvido ou compreendido.
Parece haver um erro de leitura dos partidos progressistas. Não se trata de dialogar com a periferia, somente em tempos de campanha. É preciso se reconstruir como força política a partir da periferia, potencializando as lideranças que emergem destes movimentos.
Mulheres negras, homens negros, jovens da periferia resistem buscando a sua sobrevivência. E correm para os espaços que os acolhem e por isto muitos vão para as organizações religiosas neopentecostais. Não se trata de “alienação” ou “falta de consciência”. Mas de busca de um caminho para sobreviver no inferno de violência que são as periferias.
Ouvir estes setores, fortalecer os movimentos que mais dialogam com estes segmentos, criar espaços de representação é fundamental.
A luta contra o genocídio da população negra não é uma bandeira setorial. Ela é estrutural e estratégica. É a base para se entender por que a democracia tem fragilidades. O genocídio é a forma que as classes dominantes encontraram para ajustar o modelo de superexploração do trabalho, base da dependência capitalista, como afirmam os pensadores Ruy Marini e Theotonio dos Santos.
Por isto, este episódio do 20 de novembro mostrou que ainda há erros graves de leitura e concepção no campo progressista que precisam ser urgentemente corrigidos. Caso contrário, a resistência ao fascismo não ocorrerá.
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