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Nas duas semanas que antecederam a realização do segundo turno da eleição presidencial uma narrativa tomou conta das conversas nas redes e nas ruas: o medo de que a morte de alguns grupos se tornaria algo comum e legitimado. Falava-se, claro, das LGBT, mulheres e as pessoas negras. Mas, a pergunta que se deve fazer é: quando é que o assassinato desses corpos não foi permitido no Brasil?
Alguns podem considerar o questionamento um tanto radical, mas não: os dados mostram que o Brasil está entre os países que mais mata mulheres do mundo; a "Guerra às drogas" chacina jovens negr@s cotidianamente; e as LGBT são, também, diariamente vítimas da violência promovida pelo ódio. E, desde a redemocratização pouco ou quase nada foi feito para se trabalhar a diminuição dessas mortes. Pelo contrário, sempre que pode, os governos de esquerda rifaram estas pautas para fazerem acordos espúrios com aqueles que acabaram de chegar no poder.
A violência contra estes três grupos sociais sempre foi legitimada e ignorada pelos aparelhos de Estado. Ainda que, nos últimos dez a imprensa - tradicional ou não-tradicional - tenha repercutido cada vez mais. O fato é que, desde a fundação do Estado moderno - este modelo que convivemos até hoje - alguns corpos são matáveis, ainda que o texto da lei diga o contrário, mas o mesmo texto não os alcança, e isso não é por insuficiência, é proposital.
Portanto, este é um grande momento para os partidos de esquerda reverem as suas posturas em torno destes grupos sociais que estão organizados nas redes e nas ruas. Não lembrar deles apenas nas épocas eleitorais. Não mais rifar as suas pautas para fazer acordo com aqueles que desenham o extermínio desses grupos.
Falou-se muito, desde a vitória de Bolsonaro, de que o momento pede coragem. Com certeza, mas, as LGBT, mulheres e negr@s sempre caminharam com esta coragem, pois, nunca lhes foi dado o privilégio de não se preocupar com o seguinte fato: se eu sair de casa hoje, volto vivo? Isso faz parte de nossas vidas, desde que descobrimos que nossos corpos e sexualidades não fazem parte da normatividade.
Portanto, é preciso coragem, mas mais aos partidos à esquerda e seus dirigentes para se repensarem daqui pra frente: andar lado a lado com a gente, ceder lugar nos espaços de tomadas de decisão, deixar que a gente fale... É desse jeito que a esquerda clássica e a nova vão se reconectar com estes grupos que estão cansados de serem moeda de troca: mulheres, LGBT, os trabalhadores, as pessoas que não vivem em regiões centrais e por aí adiante.