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O mentiroso “é um ator por natureza; ele diz o que diz não é por desejar que as coisas sejam diferentes daquilo que são – isto é, ele quer transformar o mundo”.1 Essa passagem de Hannah Arendt é curiosa porque nos faz parecer que a mentira é revolucionária. Mas não é. Todavia foi assim que a mídia, o MBL e, agora, o PSL conseguiram ganhar a adesão popular: convencendo através de mentiras que pretendiam mudar o Brasil.
A maior parte do eleitor caiu na lábia. Simplesmente, como nos ajuda a refletir a filósofa alemã, porque a mentira soa “como que mais lógica”. A mentira faz mais sentido que a verdade, porque os fatos soltos não possuem lógica alguma. É necessário uma narrativa para pôr um sentido. A mentira só precisa da lógica, nem mesmo de fatos.
Mas, como dizia Santo Agostinho, “não há mentira, apenas do que se diz, sem intenção, desejo ou vontade de enganar”. E isso é muito claro na mentira política. Acontece quando um candidato afirma que vai mudar o modelo de educação atual para o modelo à distância com a intenção de cortar gastos, mas no fim quer privilegiar a si e a seu ministro que possui ações em empresas que promovem tecnologia para empregar nesse tipo de educação. O mentiroso sabe que mente, “sabe a diferença entre aquilo que pensa e aquilo que diz”, é a consciência de si reflexiva, como nos dirá Jacques Derrida.
A mentira sempre foi uma arma na história política. Para ficarmos em exemplos relativamente recentes, tivemos o plano Cohen que levou Vargas a fechar o Congresso e instalar o Estado Novo. Aliás, a mentira da ameaça comunista serviu para implantar as duas mais longas ditaduras da República. Exemplos internacionais é a história das armas de destruição em massa que Georg Bush alegava existir no Iraque, uma mentira que levou à guerra e fortaleceu sua posição no poder.
No Brasil a mentira mais recente é a de que o PT quebrou a nação. Mentira porque os anos da vigência do partido alavancou o país internacionalmente e só apresentou queda porque a presidente Dilma cedeu ao projeto de Temer em 2015 e que hoje será aprofundado com a vitória iminente de Bolsonaro.
A história política do Brasil é movida por uma mentira chave: o de combate à corrupção. Todo governo que se apresenta como uma grande virada na trajetória do país lança esse discurso. E todas essas mudanças foram via golpes: 1889; 1930-37; 1945; 1964; 2016. Todas essas mudanças diziam combater a corrupção. Na maioria delas tivemos uma ditadura, o que comprova que a ditadura não é o caminho para combater a corrupção, mas uma maneira de preservá-la longe da pressão social.
Os militares, com prestígio popular desde a Guerra do Paraguai, forjaram um discurso e uma imagem de que são incorruptíveis. Quando chegam ao poder, o povo tem tanta fé nessa mentira que nem pensa em questionar. Até porque, em uma ditadura, nem se tem muita opção porque a propaganda contrária que se faz a oposição é pesada e violenta. Há um imenso descrédito e o governo apresenta-se como um herói que salvou a população do demônio.
É então que a corrupção corre solta. Rompe-se com o STF quando este não coaduna com a vontade do Executivo. Os golpes de 37, 64 e 2016 foram para aumentar a corrupção, jamais para pôr fim a ela. Essa lógica é antiga, aliás, Montesquieu pensou nos três poderes justamente porque o poder quando emana de um só lugar está fadado a ser corrupto, pois quem iria regulá-lo?
É, sem dúvida, na democracia que ocorre as maiores investigações contra a corrupção, e é por isso que parece haver mais corruptos, no entanto, essa é uma visão enganosa. O PT permitiu a maior investigação contra a corrupção da história, prendendo membros do seu próprio partido. Em um governo em que todos foram convencidos de que o líder é um santo, não existe investigação, esquece-se até do tema e, mesmo encontrando provas cabais, a alienação impedirá o convencido de enxergar a verdade. Um povo enganado confia cegamente. Esse processo já não começou?
Sendo assim, o povo brasileiro está sendo vítima de mais uma mentira politica. O objetivo não é livrar o Brasil da corrupção, é enriquecer as empresas que financiam a campanha do candidato. E a ameaça a democracia só aumenta a adesão dos empresários pois sabem que vão poder fazer o que quiserem sem que qualquer investigação seja criada.
Quem já viu o filme “O primeiro mentiroso” deve se lembrar de que ninguém acreditava que o único mentiroso daquela sociedade fosse capaz de mentir, era algo inconcebível. O candidato que está prestes a vencer as eleições lembra esse personagem, e por mais absurdo que sejam a inventices que propaga, seus seguidores acreditam que seja verdade e não conseguem perceber que estão sendo
1 ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. Trad. Mauro W. Barbosa. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 309