Escrito en
COLUNISTAS
el
[caption id="attachment_142160" align="alignnone" width="580"] Foto: Felipe Iruatã/Mídia NINJA[/caption]
O candidato do PSL já demonstrou abertamente o seu viés de extrema direita. Espertamente, desloca esse extremismo para o campo da luta dos movimentos que combatem preconceitos. Isso porque o movimento negro, feminista e LGBTQ+ ganhou visibilidade e teve algumas das suas agendas reconhecidas. Com isso, a diversidade passou a ter mais visibilidade. E, evidente, que incomoda àqueles que têm privilégios (sociais, econômicos e políticos) garantidos e legitimados pelos preconceitos.
Por que dizemos espertamente? Porque, com a estratégia, ele se mostra como um candidato que se coloca “acima das classes sociais”, em defesa de uma pretensa “unidade nacional” que estaria sendo abalada por essas pautas da diversidade e dos direitos humanos.
A “unidade nacional” do candidato do PSL tem muito a ver com as ideias de Brasil formuladas pelas elites intelectuais conservadoras do século XIX. Pensar um Brasil não como ele é de fato, mas como deveria ser: branco, masculino, europeu. E, para tanto, propunham uma política de Estado de “branqueamento” da população brasileira.
É por isso que, estranhamente, no século XX apareciam intelectuais nacionalistas, mas que defendiam teorias racistas. Um exemplo foi o escritor Monteiro Lobato, um nacionalista que acreditava no Brasil – mas um Brasil que se transformasse em um país europeu.
Com isso, o candidato do PSL consegue apoio dos racistas, machistas e LGBTfóbicos com um discurso pretensamente nacionalista (mas que se refere a uma nação imaginada ou desejada, mas não real). E aí essa visão estimula uma onda de ódio contra tudo aquilo que não se encaixa na forma de pensar. A existência de negros, mulheres emancipadas e LGBTs incomoda não só pela existência deles, mas pelo fato deles expressarem uma realidade não desejada.
Percebam como os defensores desse candidato destilam ódio contra tudo e contra todos e, no limite, ofendem o próprio “povo brasileiro” (como se eles não fizessem parte dele), porque não se encaixa na sua realidade.
E também por isso que esses apoiadores rejeitam qualquer discussão mais racional. Consomem boatos de redes sociais como se fossem notícias. Transformam preconceitos em formas de raciocínio. E violência (inclusive física) como argumento.
O esgarçamento do tecido social – fenômeno mundial – é produto dos novos arranjos produtivos do capitalismo. Se nos anos 1970, um jovem ingressava no mercado laboral trabalhando em uma empresa ou grande indústria e, ali, construía relações com colegas, sentia-se pertencente a uma categoria profissional ou classe social e, com isso, criava um certo senso coletivo; hoje a situação é diferente. Um jovem hoje ingressa no mercado profissional, por exemplo, como motoboy. O seu ganho depende da quantidade de trabalho que faz. É autônomo, disputa mercado com outros. Disputa espaço no trânsito com outros veículos. Tem medo de ser assaltado. Em tempos de crise, é forçado a trabalhar jornadas cada vez maiores para poder ganhar a mesma coisa. Não se sente parte de um coletivo e, sim, como participante de um jogo em que os outros são adversários.
Reconhecer a diversidade só é possível em um ambiente de respeito. Em uma sociedade da hipercompetitividade, em que o outro é inimigo, não há pacto possível de reconhecimento e respeito à diversidade. Daí que as marcas que sustentam as desigualdades, como o racismo e o machismo, retornam e são apropriadas oportunisticamente pela extrema direita, com o objetivo de reforçar um modelo de maior concentração de renda.
O que o candidato do PSL esconde por trás desse discurso de intolerância é aprofundar ainda mais a agenda ultraliberal de Temer. O que o seu guru-economista Paulo Guedes e o candidato a vice, general Mourão, dizem não são bravatas. É a essência do seu programa. Quer acabar com as políticas públicas. Acabar com os direitos sociais e trabalhistas. Entregar toda a economia nacional ao capital transnacional.
O candidato do PSL é esperto suficiente para saber que esse programa é antipopular – vide a rejeição recorde de Michel Temer. Por isso, faz esse jogo.
O fascismo não se resume apenas a um Estado totalitário e com discurso nacionalista e que se sustenta no corporativismo. O fascismo é um arranjo político feito para enquadrar à força toda a sociedade dentro de paradigmas que interessam ao capital. Por isso que ele emerge como alternativa nos momentos de crise – ele desloca as raízes da crise de um problema estrutural para um problema moral.