INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

IA: nem uma panacéia nem o final dos tempos, o que diz Miguel Nicolelis

Para um dos maiores cientistas do mundo, o brasileiro Miguel Nicolelis a inteligência artificial não é mágica e não vai substituir os seres humanos

Neurocientista em evento no Rio de Janeiro em 2013
Miguel Nicolelis.Neurocientista em evento no Rio de Janeiro em 2013Créditos: Daniel Marenco/Folhapress
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O palmeirense Miguel Nicolelis é um homem de esquerda, apaixonado pelo Brasil. Considerado um dos maiores neurocientistas do mundo, tem sido uma das vozes mais ouvidas quando o tema são os impactos da chamada inteligência artificial e o futuro próximo das sociedades tecnológicas.

Nicolelis tem repetido insistentemente que a IA não é verdadeiramente "inteligente" nem "artificial",  pois ele considera que a inteligência é uma propriedade exclusiva de organismos vivos, resultante da interação complexa entre o cérebro, o corpo e o ambiente. O cérebro humano é “analógico”, não opera como um computador digital, e sua inteligência não pode ser replicada por sistemas computacionais.

Crítico do “hype” em torno das novas ferramentas como o ChatGPT ou DeepSeek, Nicolelis detona especialmente a propaganda enganosa feita por magnatas como Elon Musk, que chega a anunciar, por exemplo, implantes de chips no cérebro que nos tornariam muito mais eficientes e capazes.

Críticas à Neuralink e a Elon Musk

Nicolelis argumenta que a Neuralink (empresa do bilionário Musk) não apresenta avanços significativos ou inovações reais na área. Ele descreve o chip da empresa como "invasivo" e o compara a "ficção científica de segunda categoria". Segundo ele, a maioria dos casos de paralisia pode ser tratada com interfaces não invasivas, e a Neuralink estaria se baseando em exageros e promessas infundadas.

Além disso, Nicolelis critica a falta de compreensão de Musk sobre neurociência, afirmando que Musk "não entende nada de neurociência e do que é o cérebro"

IA como ferramenta útil, mas limitada

Embora reconheça que a IA pode ser útil em áreas como análise estatística e mineração de dados, Nicolelis acredita que ela não pode imitar a inteligência humana. Ele destaca que modelos de linguagem, como o ChatGPT, funcionam como grandes repositórios de dados que reproduzem padrões existentes, sem compreender o conteúdo ou gerar conhecimento genuinamente novo. 

Ou seja, trata-se de um “futuro sem futuro”, pois esses mecanismos algorítmicos partem da base de dados atualmente existente nas redes sociais. De certa forma, simplificadamente, são uma evolução dos mecanismos de busca tipo Google. Tem muitas aplicações práticas e úteis, mas não representam nenhuma revolução ou mudança qualitativa na história da ciência e do conhecimento humano. 

Ele alerta para os riscos de desinformação e manipulação, enfatizando que a sociedade deve compreender os limites da IA e não atribuir a ela capacidades que ela não possui. 

Superexploração do trabalho

Nicolelis também expressa preocupações sobre o uso da IA como ferramenta do aumento da exploração do trabalho humano, gerando consequências como crescimento do desemprego e aumento  da precarização do trabalho em mundo ainda dominado pelo capitalismo neoliberal.

O neurocientista também  alerta para os riscos de desinformação e manipulação, enfatizando que a sociedade deve compreender os limites da IA e não atribuir a ela capacidades que ela não possui. Em resumo, Miguel Nicolelis vê a inteligência artificial como uma ferramenta útil em contextos específicos, mas acredita que ela está longe de replicar a complexidade e o alcance da inteligência humana.

O grande desafio posto é superar o marketing, as declarações bombásticas, a cortina de fumaça e debater com profundidade a forma de regulamentação e utilização destas novas ferramentas para melhorar as condições de vida das pessoas e potencializar a capacidade produtiva e o desenvolvimento sustentável.

Esta matéria foi feita com base em entrevistas de Nicolelis, saiba mais aqui, aqui e aqui.

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