Em outubro de 2024, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) foram premiados com o Prêmio Nobel de Economia, com uma pesquisa que considerava o passado colonial das nações modernas para entender a grande disparidade de riqueza entre países ricos e pobres, que chega a ser de até 30 vezes seu nível de renda.
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A pesquisa vencedora foi liderada pelos pesquisadores Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson, que evidenciavam a qualidade das instituições dos períodos coloniais como elemento precursor do futuro desenvolvimento econômico e social das nações.
Agora, em entrevista à BBC internacional, Simon Johnson, professor da Sloan School of Management do MIT, expôs uma ideia surpreendente: a de que ferramentas tecnológicas, como as inteligências artificiais e as redes sociais, podem "promover a prosperidade compartilhada", mas também ser grandes concentradoras de riqueza e influência.
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Na entrevista, Johnson comparou a influência atual das Big Techs àquela detida pelos "robber barons" (barões ladrões, em tradução livre) durante o século 19, grandes empresários e magnatas norte-americanos que acumularam suas fortunas por "meios imorais" e influenciaram de dentro para fora a economia, a política e a infraestrutura dos EUA, e cujo maior exemplo talvez seja o de John D. Rockefeller.
Ele foi o fundador da Standard Oil, que controlava até 90% da indústria petrolífera norte-americana, e financiou a criação de instituições culturais e filantrópicas que atuam nos EUA e moldam sua cultura até hoje.
Johnson evidencia que, por influenciarem de maneira tão direta e subjetiva a maneira como "recebemos e processamos informações", um aspecto fundamental, inclusive, das democracias, as Big Techs e seus produtos são um monopólio do poder na era digital, amplificado, agora, pelas novas ferramentas de inteligência artificial e sensível.
Ao ser questionado sobre quais medidas poderiam tornar a IA benéfica para a humanidade, Johnson citou o governo Trump como irresponsivo a qualquer tipo de regulação e sugeriu que "subsídios governamentais, programas, competições e definições de padrões" para o funcionamento das IAs seriam boas opções, embora não acredite que vão ser implementadas.
No assunto das redes sociais, como o TikTok e o Instagram, Johnson sugere que a publicidade digital que toma conta do cotidiano de uso e influencia subjetivamente a percepção das pessoas seria melhor combatida com uma espécie de sistema de assinaturas.
"A maneira como a publicidade digital funciona é mantendo sua atenção", diz ele à BBC. "É como anúncios de TV: eles querem mostrar coisas que vão te envolver emocionalmente, para que você não mude de canal ou saia da frente da TV para ir ao banheiro, por exemplo".
Mas, no caso dos celulares, há um maior nível de atividade e segmentação, que facilita o uso do feedback pessoal e o monitoramento do que o usuário faz para engajá-lo em diferentes tipos de conteúdo especializado.
Por isso, a melhor maneira de chamar a atenção hoje é "deixando você com raiva", prossegue Johnson, e essa estratégia de manipulação emocional gera polarizações numa democracia.
"Uma assinatura seria melhor", ele conclui, usando a ideia de que, "se você não paga por um produto, você é o produto", atribuída ao cientista da computação americano Tristan Harris, que já trabalhou como especialista em ética de design na Google.
"Coisas gratuitas [são mantidas por] anúncios digitais, e esses anúncios são viciantes, manipuladores e problemáticos de uma perspectiva democrática".
"Embora muitas coisas da vida sejam gratuitas, isso não inclui o conteúdo da internet", evidencia Johnson.
Isso significa que, embora você não pague dinheiro para usar o Tiktok ou o Instagram, está pagando com elementos muito valiosos, como a manipulação dos seus interesses, a invasão da sua privacidade para alimentar o algoritmo dedicado a criar desejos específicos e a tornar seu uso viciante a partir de estímulos visuais.
A publicidade digital pode ser combatida, na opinião de Johnson, com um sistema que envolva, por exemplo, "diferentes níveis de assinatura", com preços que podem ser mais baixos em diferentes países, ou assinaturas mais baratas para estudantes e idosos. Essa ideia buscaria combater o consumo passivo de publicidade digital agressiva e invasiva, embora haja dúvidas quanto à eficácia de uma estratégia assim. Afinal, as estratégias do capitalismo sempre encontram maneiras de se reinventar.