Em janeiro, uma onda de desinformação sobre o Pix tomou conta das redes sociais. A fake news mais difundida foi sobre uma suposta “taxa” no serviço, o que acabou alimentando fraudes em massa. A desinformação acabou facilitando a veiculação de mais de 1.770 anúncios falsos nas plataformas da Meta, dona do WhatsApp, Facebook e Instagram, segundo levantamento do Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais (NetLab), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
De acordo com a pesquisa, realizada entre os dias 10 e 21 de janeiro, período marcado por uma onda de desinformação acerca da fiscalização do Pix devido à nova norma da Receita Federal, as regras de moderação de conteúdo da Meta favoreceram a disseminação de anúncios fraudulentos sobre temas financeiros e políticas públicas. Dada a maior vulnerabilidade da população diante das fake news, golpistas aproveitaram a oportunidade para cometer fraudes, encontrando nas redes da Meta um ambiente favorável para suas ações.
O estudo, intitulado “Danos causados pela publicidade enganosa na Meta”, apontou que 70% das publicações tinham algum tipo de manipulação feita com inteligência artificial (IA), incluindo vídeos adulterados envolvendo políticos e jornalistas. Ao todo, 718 postagens redirecionavam para sites fraudulentos que se passavam por plataformas de órgãos públicos, exibindo logomarcas da Caixa Econômica Federal e do Banco Central (BC).
A manipulação por IA envolveu figuras como o ministro Fernando Haddad, o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin, e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que liderou a campanha contra a nova norma de fiscalização do Pix, responsável pela onda de fake news.
Os anúncios fraudulentos com deepfake de Nikolas Ferreira ganharam força após a revogação da norma, poucas horas após o anúncio, mostrando como golpistas aproveitam o momento para explorar temas em alta no debate público, visando atrair novas vítimas. O estudo aponta que houve um aumento de 234% na circulação de deepfakes do deputado nos seis dias seguintes à revogação.
Aumento de golpes nas redes
Os pesquisadores descobriram que os anúncios fraudulentos foram realizados por 151 anunciantes e direcionavam para 87 sites. Os golpistas também aumentaram seu alcance ao pagar pelo impulsionamento das publicações. O estudo do NetLab aponta ainda que, após a revogação, o teor dos conteúdos mudou, passando a fomentar e explorar ainda mais a desconfiança contra as ações do governo.
Dentro da campanha de desinformação promovida por opositores do governo, parlamentares de direita alocaram R$18 mil para impulsionar anúncios nas plataformas da Meta com mensagens que criticavam a medida governamental.
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O alcance dos anúncios fraudulentos foi impulsionado pelas ferramentas de marketing da Meta, que permitem a segmentação de anúncios de acordo com características demográficas, geográficas e de interesses dos usuários. Contudo, a falta de transparência da empresa sobre esses dados dificulta o enfrentamento e a punição pela disseminação de desinformação.
“Nas plataformas da Meta, é possível segmentar os anúncios com base em critérios como dados demográficos, localização e comportamentos dos usuários, permitindo que anunciantes fraudulentos atinjam públicos mais suscetíveis a clicar em seus anúncios e, assim, maximizem suas chances de encontrar as 'vítimas ideais'. No entanto, sem a devida transparência, não se sabe se esses critérios são abusivos ou discriminatórios", informa o relatório.
Ainda, segundo os pesquisadores, há assimetrias nas políticas da plataforma de Zuckerberg entre o Norte e o Sul Global:
“A Meta proíbe opções específicas de segmentação de anúncios que tratam sobre produtos e serviços financeiros em regiões como os Estados Unidos e o Canadá, o que não ocorre no Brasil. Este fato pode ajudar a lesar desproporcionalmente aqueles que mais precisam de políticas de seguridade social e de inclusão financeira em países de maior desigualdade e pobreza”