COMBATE À ADULTERAÇÃO

Azeite falsificado: IA e micro-ondas podem ajudar na detecção de fraudes; entenda

Pesquisadores criaram sistema que utiliza ondas do micro-ondas e IA para identificar adulteração em azeites com precisão e menor custo

Em 2024, governo brasileiro encontrou vários azeites falsificados.Créditos: Pixabay
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O grande problema não é só pagar caro pelo azeite de oliva, mas sim levar para casa um produto fraudado. Uma tecnologia desenvolvida pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo (USP) utiliza micro-ondas e inteligência artificial para detectar até 5% de adulterantes em azeites extravirgens.

Com uma precisão de 99,2%, o método consegue identificar óleos como soja, milho, girassol e canola, sendo mais acessível e eficaz do que as técnicas tradicionais. A abordagem também oferece menor custo e pode ser aplicada em larga escala na indústria e para o consumidor, já que permite a criação de dispositivos portáteis.

O sistema desenvolvido se baseia em tecnologia de micro-ondas, empregando frequências parecidas com as de Wi-Fi e celulares para investigar as propriedades do azeite. Um sensor planar, formado por tiras de cobre em uma placa, é inserido no material em análise, emitindo sinais de micro-ondas e avaliando a resposta eletromagnética do material previamente posicionado. 

Segundo o pesquisador e autor do estudo, Júlio Alarcon, o sensor interage diretamente com o azeite, captando variações no ambiente que indicam a presença de adulterantes. “É como uma espectrometria de micro-ondas, que detecta mudanças sutis nas propriedades do óleo”, afirma. O sensor foi projetado para avaliar a permissividade eletromagnética das amostras de azeite, ou seja, como o material responde a um campo elétrico e influencia as interações entre as cargas elétricas dentro dele. 

Em conjunto com redes neurais artificiais, o sistema é capaz de detectar a presença, a natureza e a quantidade dos adulterantes, com uma margem de erro inferior a 2%. O processo envolve a emissão de sinais eletromagnéticos por um lado do sensor e sua captação pelo outro. O sistema compara a entrada e a saída do sinal para identificar diferenças no perfil de permissividade entre azeite puro e misturas adulteradas. "O sensor é imerso no óleo e detecta até mesmo alterações muito pequenas, graças à sensibilidade da tecnologia e ao refinamento das redes neurais que processam os dados", detalha.

As redes neurais artificiais desempenharam um papel crucial no sucesso da pesquisa, permitindo o processamento e análise dos dados coletados pelo sensor de micro-ondas. Elas são responsáveis por identificar padrões nos sinais captados, diferenciar os tipos de adulterantes e quantificar suas proporções.

“O sensor, por si só, nos fornece os dados brutos, mas é a rede neural que transforma essas informações em resultados precisos, como a identificação do tipo de óleo misturado e a porcentagem de adulteração”, afirma Vinicius Marrara Pepino, coautor do estudo. A pesquisa pode ser acessada aqui.

No processo de desenvolvimento, os pesquisadores treinaram a rede neural com informações de 260 amostras, que abarcaram azeites puros e adulterados com óleos de soja, milho, girassol e canola. Foram aplicadas técnicas de pré-processamento para assegurar a precisão dos dados e reduzir erros.

"Realizamos testes com diferentes configurações, desde redes mais simples, com duas camadas, até modelos mais sofisticados, para encontrar o equilíbrio entre eficiência e precisão", explica Pepino. "Ao final, conseguimos um sistema que atinge até 99% de acerto", diz Pepino.

A rede neural utilizada foi configurada com perceptrons multicamada (MLP), "neurônios artificiais" que recebem, processam e transmitem informações, utilizando arquiteturas com duas ou quatro variáveis de entrada. Ela opera em um modelo onde os dados fluem da camada de entrada para a saída, passando por uma ou mais camadas ocultas. Este modelo pode ser adaptado para detectar adulterações em outros produtos ou até para monitorar processos industriais. 

"Nosso objetivo é expandir o uso dessa tecnologia para diferentes aplicações, mantendo a simplicidade e a eficiência do sistema", antecipa o pesquisador.

Várias marcas de azeite suspensas em 2024

azeite de oliva é o segundo alimento mais fraudado do mundo, atrás apenas do pescado, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). No Brasil, o órgão voltou a agir contra produtos irregulares, proibindo, nesta quinta-feira (3), a comercialização de 11 marcas consideradas impróprias para o consumo.

Entre as marcas vetadas estão: Málaga, Rio Negro, Quinta de Aveiro, Cordilheira, Serrano, Oviedo, Imperial, Ouro Negro, Carcavelos, Pérola Negra e La Ventosa. Não é a primeira vez que o Mapa identifica irregularidades em lotes de azeite vendidos no país, reforçando a necessidade de maior fiscalização e cuidado na hora da compra.

Para isso, a Fórum elencou algumas recomendações feitas por especialistas ao escolher o óleo vegetal no mercado.

  • Não comprar azeite a granel;
  • Fique atento aos ingredientes contidos;
  • Desconfiar do preço - azeites com preços muito baixos pode conter alguma irregularidade;
  • Data de envase - é preciso que a data de fabricação seja recente;
  • Verificar azeites proibidos - conferir regularmente a lista de produtos suspensos Ministério da Agricultura.

A luz, o oxigênio e o calor são os grandes vilões do azeite. É por isso que as embalagens escuras, como as de vidro escuro, são tão importantes. Elas protegem o produto da luz, evitando a oxidação e a perda de suas propriedades.

Além disso, a data de produção é fundamental: quanto mais recente, melhor. Afinal, como explicou Ana Beloto, azeitóloga e referência no setor à revista Forbes, o azeite é um 'suco de azeitona' e, como tal, “deve ser consumido fresco”. Em apenas seis meses, as autoridades apreenderam mais de 97 mil litros de produto adulterado, segundo dados do Ministério da Agricultura, o maior número de azeites suspensos desde 2023. Neste primeiro semestre, houve um aumento de 17% em relação ao ano passado. A principal fraude consiste na adição de óleos vegetais, como soja, e corantes para imitar o azeite de oliva.

 

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