Em coletiva de imprensa transmitida nesta segunda-feira (17), a Polícia Civil de Santa Catarina apresentou a conclusão do inquérito sobre o massacre de Blumenau, que ocorreu no último dia 5 de abril quando um homem de 25 anos invadiu uma creche na cidade e, com uma machadinha, tirou a vida de 4 crianças e deixou outros 5 feridos. Na conversa, com a presença de jornalistas, a polícia deu detalhes mórbidos da ação do assassino e falou sobre as investigações que, entre outras coisas, refez sua trajetória de vida a fim de traçar perfil psicológico.
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Após fazer um apelo contra as fake news, que tanto atrapalharam a investigação, e anunciar uma série de medidas do governo estadual que visa combater ataques a escolas, os policiais começaram a detalhar a investigação e alguns pormenores do ataque.
De acordo com o inquérito, o assassino sempre teria sido uma criança, e depois um jovem, muito respeitoso. Com a mãe, na escola enquanto aluno e em outras situações. As coisas começaram a mudar quando a mãe se separou do pai, a família era do Paraná, se mudou com o filho para Blumenau, em Santa Catarina, e em seguida começou a se relacionar com outro homem.
O padrasto seria alguém que sempre o ajudou. Em um primeiro momento, quando o autor quis comprar uma moto. Em um segundo momento, quando decidiu trabalhar como motorista da Uber. “O padrasto fez todo o trâmite para que ele pudesse trabalhar. E assim que ele inicia essa atividade, tem o seu primeiro contato com a cocaína e o comportamento começa a mudar”, afirma a investigação.
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A partir desse ponto começaram os delírios de perseguição e até a ocorrência de alucinações, com a escuta pelo autor de barulhos em casa que a mãe e o padrasto não ouviam.
“Numa ocasião esse filho corre até o quarto da mãe, provavelmente alucinado, e diz que estava sendo perseguido e queria o fim do seu relacionamento. Ou seja, ele começa a tentar interferir no relacionamento da mãe com o padastro, e um dia chega para a mãe e diz: ‘Ele entrou no meu quarto quarto e implantou um chip no meu olho. Ele quer me monitorar’”. Após tomar ciência do incidente e do eventual uso de drogas do autor, o padrasto teria pedido que ele saísse da casa. Em seguida, vai morar com um tio.
“Ele fica trinta dias morando com esse tio, que nesse período tenta monitorar todos os seus passos até que ele retorna à residência da mãe e do padrasto. O casal estava na cozinha quando ele entra e dá 'bom dia'. O padastro devolve o bom dia, ele vai até a sala, fala com a mãe, depois ele retorna já de posse de um canivete e desfere o golpe no pescoço padastro, sem que este pudesse perceber, e cai desfalecido. Ele desfere mais golpes, no rim e nas axilas, antes de ir embora. Depois disso é internado, se recupera e volta para Blumenau, mas a família já havia se separado”.
“Prova de coragem”
Depois que o autor volta a Blumenau, a polícia afirma que o ex-padrasto vivia fugindo dele. Duas semanas antes do massacre, ele teria se reunido com um amigo em uma praça e conversado sobre a machadinha, sobre o padrasto e sobre um policial militar que fazia academia com ele. Além de citar uma suposta perseguição sofrida por parte de ambos, padrasto e PM da academia, também teria dito a esse que faria algo grande. Mas o amigo não deu bola, afinal o autor era conhecido por falar coisas sem sentido e aumentar histórias.
A polícia aponta que essa suposta perseguição seria perpetrada, dentro da mente do autor, pelo próprio padrasto ou pelo PM da academia, pois seriam figuras que de uma forma ou de outra poderiam repreender seu comportamento.
“Na cabeça dele, não podia ter contato com o padrasto, que era uma pessoa que o perseguia. A polícia também o incomodava bastante. Ele até aponta, já depois do atentado, que esse policial militar teria sido o mandante do massacre (…) Mas o amigo do autor apontou que o policial em questão era uma pessoa ‘do bem’, íntegra, um competidor de Jiu-Jitsu, e que o autor fez academia com ele por um período curto de tempo. Esse policial militar não teve contato com ele, e sua admiração pelo PM seria não apenas pela profissão, mas também por competir em artes marciais”, afirma a investigação.
Para os policiais civis, o abuso de drogas causou uma confusão mental no autor que criou uma imagem interna própria desse PM citado. Ele via o policial como um homem forte, corajoso e teria feito o atentado como meio de provar que também tinha tais qualidades ao ícone.
“Esse policial foi ouvido e em momento algum falou que conhecia o autor. Quando, agora, o autor foi novamente chamado, na presença da psicóloga, ele relatou tudo como no depoimento, não muda nada da história. Quando provocado sobre o por quê das crianças, até fala novamente que teria sido por ordem do policial militar. Mas quando tem um pico de estresse, admite: ‘Não houve ameaça nenhuma, o policial militar não me ameaçou, eu fiz aquilo para mostrar pra ele (o PM) que eu também era corajoso’. Na cabeça dele foi um ato de coragem. Ele se manteve frio, falou como fez e que se pudesse, faria de novo”, concluiu o policial.
Momento de extrema brutalidade
Em dado momento, o policial que conduziu a coletiva relatou trechos do depoimento do assassino. Entre outras coisas, o homem afirmou que preferiu vitimar crianças pela facilidade que teria em abatê-las. Quando questionado por que não mirou, por exemplo, um quartel da Polícia Militar ao invés de crianças, o autor do massacre afirmou que só poderia empreender tal ataque se tivesse, em mãos, armas de fogo e colete à prova de bala. A razão disto seria de que, em um ataque como esse, mesmo que morra, o autor “precisa” deixar vítimas fatais. Uma espécie de “legado”.
Em seguida, o representante da investigação narrou uma das passagens mais sórdidas do crime.
De acordo com o assassino, “crianças são mais fáceis [de matar] porque correm devagar e ele teria condições, caso isso acontecesse, de alcançá-las. Ele narra uma situação em que uma criança corre dele, ri pra ele, achando que era uma brincadeira, e ele então acaba atingindo essa criança fatalmente”, afirmou o representante da investigação.