O homem negro que no último domingo (4) teve as mãos e pés amarrados com cordas por policiais militares na zona sul de São Paulo também teve prisão preventiva decretada pela Justiça na segunda (6) após passar por audiência de custódia. Ele foi acusado de um suposto furto em supermercado no bairro da Vila Mariana e a abordagem pela qual foi preso em flagrante viralizou nas redes sociais como uma expressão do racismo cotidiano que se vive no país.
De acordo com a versão dos PMs, que foi registrada na delegacia na forma de um boletim de ocorrência, o homem de 32 anos teria resistido à abordagem, à prisão e os ameaçado. Os agentes faziam patrulhamento na região na noite de domingo, pouco antes da meia noite, quando uma mulher os parou e apontou para o mercado. Uma vez no estabelecimento, funcionários teriam dito que acabara de ocorrer um arrastão no local.
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Ao saírem de lá, os policiais relatam que encontraram o homem de posse de duas caixas de bombons avaliadas em R$ 15. Ele teria confessado o furto e desacatou uma ordem dos policiais para se sentar. Ainda segundo os policiais, o homem resistiu mesmo algemado e, por isso, chamaram reforços e amarraram suas pernas. Ele teria ameaçado roubar a arma dos agentes, fazendo referência a um episódio ocorrido na mesma semana na zona leste da capital paulista.
A seguir, os policiais levaram o homem para receber atendimento na UPA Vila Mariana, onde uma testemunha filmou as condições nas quais tinha sido amarrado.
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Os vídeos contradizem a versão e mostram os policiais arrastando o homem pelo chão sem nenhum remorso e colocando-o numa maca de maneira violenta. O homem geme enquanto um PM o carrega pelo corredor do UPA, parecendo sentir dor. “Calma, tô colaborando, tô colaborando”, diz o homem repetidas vezes, a fim de não ser castigado pelos policiais.
O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, compartilhou um v??deo da situação em suas redes sociais e questionou: "A escravidão foi abolida?"
Nesta quarta os policiais envolvidos no lamentável episódio foram afastados das suas funções e um inquérito foi aberto para apurar a conduta dos agentes de segurança.
Em nota, a PM lamentou o episódio e reafirmou “que a conduta assistida não é compatível com o treinamento e valores da instituição”. A nota diz ainda que “foi instaurado um inquérito para apurar todas as circunstâncias relativas às ações dos policias envolvidos no episódio. Todos foram preventivamente afastados das atividades operacionais, vez que as ações estão em desacordo com os procedimentos operacionais padrão da instituição”.