RIO DE JANEIRO

Quem são os chefes do Comando Vermelho investigados pela execução dos autores da chacina que vitimou médicos

Os homens são apontados pela polícia como os chefões do tráfico de drogas nas favelas cariocas e teriam sido os responsáveis pela execução dos autores da chacina no âmbito do “tribunal do crime”

Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha, e Edgar Alves de Andrade, o Doca.Créditos: Reprodução
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Dois chefes do Comando Vermelho que não estão presos são investigados pela Polícia Civil do Rio de Janeiro por conta da execução dos autores da chacina que vitimou três médicos ortopedistas paulistas em quiosque na orla da Barra da Tijuca, na zona oeste da capital fluminense, na última quinta-feira (5). Os profissionais estavam na cidade para participar de um congresso e tomavam umas cervejas no local quando um veículo estacionou ali e dois homens desceram atirando.

Mais tarde a investigação policial apontou que o crime foi cometido por engano. Um dos médicos teria sido confundido pelos criminosos com o miliciano Taillon Alcantara - filho do chefe da milícia de Jacarepaguá, Muzema e Rio das Pedras, e alvo original do ataque.

Os autores realmente acreditaram que tinham matado o alvo correto e chegaram a publicar imagens da ação nas redes comemorando-a - as publicações foram apagadas após a constatação do engano. No entanto, para a cúpula do Comando Vermelho, principal organização criminosa do Rio, a repercussão do crime não agradou. Sobretudo porque uma das vítimas era irmão da deputada federal Sâmia Bomfim, o que deu uma visibilidade considerada fora do comum ao episódio.

As lideranças da facção teriam, inclusive, feito uma vídeoconferência para levar os autores da chacina ao famoso “tribunal do crime” pelo equívoco. Líderes que estão em liberdade teriam debatido o tema com pares que estão presos em Bangu 3. Após a informação ter sido confirmada pela Secretaria de Administração Penitenciária do Rio, o presídio passou por operação de busca e apreensão na última sexta-feira (6) em que 22 celulares foram apreendidos.

Agora a polícia investiga Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha, e Edgar Alves de Andrade, o Doca. Os dois são considerados líderes do CV e apontados pela polícia como os chefões do tráfico de drogas nas favelas cariocas. Teriam sido eles os responsáveis pela execução dos autores da chacina, uma vez que estão em liberdade e coordenam o crime nas ruas.

A dupla já era investigada anteriormente a respeito das novas alianças entre o CV e alguns grupos milicianos, que disputam territórios na zona oeste do Rio.

Corpos dos autores são encontrados

A Polícia Civil encontrou no fim da noite de quinta-feira (5) os corpos de quatro supostos traficantes que teriam assassinado os três médicos na Barra da Tijuca.

Os corpos estava dentro de dois carros localizados na zona Oeste da capital fluminense. Segundo a polícia, ao menos dois dos supostos traficantes encontrados mortos são suspeitos de terem participado do assassinato dos médicos: Philip Motta Pereira, o Lesk, e Ryan Nunes de Almeida, que integrava o grupo liderado por Lesk, chamado de "Equipe Sombra".

Os outros dois corpos encontrados ainda não foram identificados. A polícia já confirmou que Bruno Pinto Matias, o Preto Fosco, e Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, o BMW, não estão entre os mortos. Eles são suspeitos do assassinato dos médicos.

Três corpos foram encontrados dentro de um carro na Rua Abrahão Jabour, nas proximidades do Riocentro. O quarto corpo estava em outro veículo, na Avenida Tenente-Coronel Muniz de Aragão, na Gardênia Azul.

Tribunal do Crime

A execução dos assassinos dos médicos teria sido encomendada pela cúpula do Comando Vermelho após julgamento sumário pelo chamado Tribunal do Crime.

A ação teria sido encarada como desastrosa pela liderança do CV, já que o alvo central do ataque teria sido confundido e, para piorar, quatro inocentes, os médicos ortopedistas renomados que participariam de um congresso, acabaram sendo vitimados, o que rendeu repercussão mundial.

segundo as investigações, um traficante da comunidade Gardênia Azul, conhecido como “BMW”, teria passado uma informação errada ao líder do bando nessa comunidade, cujo apelido é “Lesk”. Um áudio que seria de “BMW” informa que o miliciano Taillon de Alcântara, filho do chefe da milícia de Jacarepaguá, Muzema e Rio das Pedras, rival da quadrilha do narcotráfico, estaria bebendo “num quiosque no Posto 2” da orla da Barra da Tijuca.

O homem visto não era Taillon, mas sim o médico Perseu de Almeida, que estava acompanhado de outros três colegas, também médicos. O local informado também estava errado, uma vez que o Quiosque do Naná fica entre os postos 3 e 4.

A comunidade da Gardênia Azul já foi comandada pela milícia de Taillon e seu pai, mas caiu nas mãos do tráfico depois que Phillip Motta Pereira, o “Lesk”, então integrante do bando miliciano, resolveu trocar de lado e ingressar no Comando Vermelho.

Os autores dos disparos, assim como “BMW” e “Lesk”, teriam se refugiado em áreas do Rio sob controle do CV após a ação contra os médicos e inclusive teriam demorado horas para descobrir que um dos mortos não era Taillon, pois fizeram postagens comemorando a execução do inimigo, que por fim foram apagadas posteriormente quando descobriram o trágico engano cometido.

Fontes da Secretaria de Administração Penitenciária confirmaram ao g1 que uma videoconferência entre as lideranças da facção presas em Bangu 3 foi realizada. Os líderes da organização criminosa teriam marcado uma reunião no bairro da Penha, no início desta noite, para levar os executores ao chamado "tribunal do crime".