CASO FLORDELIS

Incesto e falso filho biológico: veja o que foi dito no primeiro dia de julgamento do caso Flordelis

"Flordelis tem predileção pelo absurdo. Ela prefere matar o marido do que provocar um escândalo junto a igreja", disse delegado responsável pela conclusão do inquérito

Flordelis dos Santos de Souza.Créditos: Fernando Frazão / Agência Brasil
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A ex-deputada federal e pastora evangélica Flordelis dos Santos de Souza, de 61 anos, começou a ser julgada na manhã dessa segunda-feira (7) na 3ª Vara Criminal de Niterói (RJ) em jornada marcada por choro e citações de incesto e de fraude no reconhecimento de um filho biológico. Ela é acusada de ser a mandante do assassinato do marido Anderson do Carmo, morto a tiros na porta de casa em 2019.

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Logo na abertura do julgamento, enquanto eram listados os crimes atribuídos a Flordelis, a ré chorou e viu sua defesa rodeá-la a fim de evitar que fotografias do momento fossem feitas pela imprensa. Além das acusações, a presença da mãe da ré, Calmozina Motta, também contribuiu para o choro de Flordelis. Segundo relatos da imprensa, ela teria se aproximado e falado rapidamente com a filha, para que a ex-deputada em seguida começasse a chorar. Também a filha de Flordelis e neta de Calmozina, Simone dos Santos Rodrigues, chorou ao ver a avó. Simone chegou a ser apontada por Flordelis como a mandante do assassinato de Anderson do Carmo, em 2019.

A sessão foi iniciada com o depoimento da delegada Bárbara Lomba, responsável pelas investigações do caso. Segundo a delegada, Flordelis e Anderson teriam tido relações íntimas com filhos adotivos. A família tampouco era coesa e após o crime alguns membros queriam falar com a polícia. Flordelis e Anderson tinham 55 filhos, a maioria adotivos.

“Para a igreja deles e sociedade era um casamento tradicional. Mas os depoimentos desmontam algo que era passado de outra forma. Não havia o amor de pai e mãe, eles conviviam e as pessoas tinham relações com elas de cunho sexual”, disse a delegada. Na sequência a defesa da ex-deputada rebateu o depoimento e disse que a delegada estava mentindo. Para o advogado Rodrigo Faucz, a acusação não teria provas contra Flordelis e estariam tentando desacreditá-la perante a opinião pública.

A delegada ainda apontou que a própria vítima teria sido um ‘filho adotivo’ de Flordelis antes de casar-se com a ré. Anderson teria obtido uma autorização para se casar aos 17 anos, apenas dois anos depois de ter sido 'acolhido' pela ex-deputada. A diferença de idade entre eles é de 16 anos. Segundo Lomba, a situação desagradava Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis, que foi condenado a 29 anos de prisão após confessar ter assassinado Anderson do Carmo com 33 tiros. A defesa rebate dizendo que Anderson casou-se com Flordelis aos 21 anos.

Lomba ainda apontou que o suposto filho biológico de Flordelis e Anderson, Daniel dos Santos de Souza, teria uma certidão de nascimento falsificada. Encontrada pela investigação, sua mãe biológica teria sido forçada a forjar os documentos para doar a criança.

Na sequência falaram o delegado Allan Duarte, responsável pela conclusão do inquérito. "Flordelis tem predileção pelo absurdo. Ela prefere matar o marido do que provocar um escândalo junto a igreja", afirmou. Duarte ainda disse que Flordelis havia tentado matar o marido em 2018, envenenando sua comida com cianeto e arsênico.

Também são réus no julgamento, com previsão de duração mínima de dois dias, Simone dos Santos Rodrigues e Rayane dos Santos Oliveira, filha neta biológicas de Flordelis, e os filhos não biológicos André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva. Entre os sete jurados sorteados ao início da sessão, há 4 homens e 3 mulheres.

Relembre o caso

Pastor evangélico e casado com a então deputada federal pelo PSD-RJ, Anderson do Carmo foi morto em 16 de junho de 2019 quando chegava na casa onde vivia com Flordelis e 35 filhos em Niterói, no Rio de Janeiro.

As investigações passaram a apontar a então deputada como mandante do crime. Em abril de 2021, uma das suas filhas, Simone dos Santos Rodrigues, declarou para a Justiça que teria dado R$ 5 mil para outra irmã, Marzy Teixeira da Silva, executar um plano para assassinar Anderson. Na ocasião Simone alegou que a sua mãe é inocente, pois não teria conhecimento do plano - meses antes a própria Flordelis assumiu que teria ciência. No depoimento, a filha biológica da parlamentar alega que resolveu matar o pai devido a abusos sexuais cometidos pelo pastor contra ela.

A pastora foi denunciada ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) como a mandante do assassinato de Anderson. Flordelis acabou tendo seu mandato cassado em 11 de agosto de 2021 e dois dias depois já estava presa. 11 dias depois foi expulsa do PSD. Ela foi denunciada por arquitetar o homicídio, convencendo seu filho Flávio dos Santos Rodrigues, o acusado de ser o executor direto do crime e os demais acusados, a participarem do assassinato sob a simulação de ter acontecido um latrocínio.

Flordelis nega as acusações. Seus filhos julgados no presente júri respondem por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada.

*Com informações da Folha e do Uol.