‘GENTE DE BEM’

Primo grileiro de Damares Alves aterroriza acampamento do MST no Pará

Marcos Bengtson é acusado a mais dez anos pela morte de um sem-terra; Ele é filho de Josué Bengtson, pastor e líder máximo da Igreja Quadrangular condenado pela ‘máfia das ambulâncias’ e em cujo avião foram encontrados 290kg de Skunk

Damares Alves (Republicanos), senadora e ex-ministra de Bolsonaro.Créditos: Reprodução/Redes Sociais
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Marcos Bengtson, primo da senadora bolsonarista Damares Alves (Republicanos), já é acusado do envolvimento em diversos crimes e responde em liberdade pelo assassinato do trabalhador sem terra José Valmeristo Soares, conhecido como Caribé, torturado e morto em 2010. O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) denuncia, nesta sexta-feira (15), que homens que estariam sob seu comando vêm ameaçando famílias do acampamento Quintino Lira, em Santa Luzia, no Pará, desde o último final de semana.

As famílias agricultoras relatam a destruição dos seus meios de produção e das próprias áreas do acampamento, com a derrubada e queima de casas de fornos e roças destruídas nos últimos dias.

No mês de agosto, o acampamento completou 16 anos, e as famílias que realizaram atividades esportivas e brincadeiras hoje vivem temerosos com a perseguição sofrida. Foto: MST

A fazenda Cambará, hoje acampamento Quintino Lira, é reivindicada pelas famílias desde 2007 junto ao Incra e Iterpa (Instituto de Terras do Pará). O MST alega que se trata de terra pública grilada que, portanto, conforme determinado pela Constituição Federal, deve ser destinada para fins de reforma agrária.

Desde o estabelecimento do acampamento e da reivindicação, os conflitos envolvendo o gerente da fazenda Cambará, Marcos Bengtson, vêm escalando. Em 2021, o acampamento Quintino Lira e comunidades próximas sofreram com a pulverização aérea de agrotóxicos. O crime foi denunciado para as secretarias de saúde e do meio ambiente do município. "Os diversos crimes cometidos por Marcos Bengtson também foram denunciados à Delegacia de Conflitos Agrários (DECA) pelos trabalhadores rurais", explica nota do MST divulgada para a imprensa.

Vista aérea do acampamento Quintino Lira. Foto: Tião Oliveira

“Frente a todo o histórico de violências sofridas pelas famílias acampadas, diversas denúncias já foram feitas. Após 13 anos de injustiça e morosidade dos órgãos públicos em solucionar e desapropriar a área pública onde ocorre o conflito, para fins de reforma agrária, o grileiro e assassino, volta a ameaçar e intimidar as famílias acampadas”, diz nota do MST.

Após os últimos ataques desta semana, a Sociedade Paraense de Defesa de Direitos Humanos (SDDH) encaminhou um documento para o secretário Jarbas Vasconcelos, da secretaria de Igualdade Racial e de Direitos Humanos e também foi acionada a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Pará.

“A expectativa é de que a justiça possa ser feita tanto para que as famílias tenham o direito reconhecido para o assentamento das mesmas, quanto para que haja a punição dos criminosos e proteção da comunidade vitimada,” finaliza a nota.

A família

De acordo com nota do MST, as atividades da família Bengtson, próxima a Damares, envolvem grilagem de terras, tráfico de drogas, assassinatos e corrupção. A própria Damares Alves, hoje senadora pelo Republicanos, recentemente foi condenada por propagar informações falsas sobre o arquipélago do Marajó.

Marcos Bengtson é filho de Josué Bengtson, tio de Damares, pastor e líder máximo da Igreja Quadrangular, que foi condenado no escândalo da "máfia das ambulâncias", no chamado "Casos dos Sanguessugas", no meio dos anos 2000. Recentemente, em um avião de sua propriedade foram encontrados 290kg de skunk, uma variação de luxo da maconha.

Marcos e Josué Bengtson. Créditos: Redes sociais e Agência Brasil

De acordo com a investigação realizada pela Polícia Federal (PF), foi constatado que a droga encontrada em uma aeronave está avaliada em mais de R$ 4 milhões.

Segundo informações divulgadas pela Polícia Federal, a droga ocupava praticamente todo o espaço interno da aeronave, exceto pelos assentos destinados ao piloto e a um passageiro. A nota emitida pela corporação menciona que o forte odor indicava que a aeronave já estava carregada há horas, aguardando a decolagem.

Escola do acampamento Quintino Lira. Foto: MST/ Divulgação

Os dados do Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB) confirmam a propriedade da aeronave de prefixo PR-WYN pela Igreja do Evangelho Quadrangular. Trata-se de um Bonanza G36 fabricado em 2011 pela empresa norte-americana Hawker Beechcraft.

Conforme as informações disponibilizadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), a aeronave foi adquirida pelos atuais proprietários em junho de 2020. Sites especializados no setor indicam que um modelo similar pode ter um valor entre R$ 3,5 milhões e R$ 10 milhões, dependendo das condições e das horas de voo.