DITADURA NUNCA MAIS

Mausoléu do ditador Castelo Branco no Ceará dará lugar ao abolicionista Dragão do Mar

O governador do Ceará, Elmano de Freitas, afirmou que no "Palácio da Abolição não ficará o mausoléu de quem apoiou a ditadura"

Mausoléu do ditador Castelo Branco no Ceará dará lugar ao abolicionista Dragão do Mar.Créditos: Reprodução redes sociais
Escrito en BRASIL el

O governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), revelou, durante o evento "Agosto da Memória e Verdade: 44 anos de Anistia", que o mausoléu do ditador Castelo Branco será retirado do Palácio da Abolição, sede do executivo cearense.

No lugar do mausoléu de Castelo Branco, será prestada homenagem ao jangadeiro abolicionista Dragão do Mar.

"No Palácio da Abolição não ficará o mausoléu de quem apoiou a ditadura. Existe um projeto a ser executado, eu já estou cobrando há algum tempo e agora precisamos... A minha vontade, meu desejo, é que no dia 11 de dezembro, no Dia Internacional dos Direitos Humanos, nós tragamos para cá, se é para trazer alguém, tragamos para cá Dragão do Mar e os abolicionistas e os lutadores pela democracia, honrando a história daqueles que lutaram, que dedicaram suas vidas pela democracia e pelo bem-estar do nosso povo", afirmou Elmano de Freitas.

Para Elmano de Freitas, é uma "incoerência manter o Mausoléu de Castelo Branco no Palácio da Abolição. Transformaremos o espaço em um monumento em homenagem aos líderes abolicionistas cearenses, como o Dragão do Mar, que lutaram pela liberdade".

O “futuro” de Castelo Branco

O Mausoléu de Castelo Branco, que "governou" o país de 1964 a 1967 e é tombado como patrimônio histórico e cultural do estado, fica ao lado do Palácio da Abolição. Ainda não está decidido para onde serão levados os restos mortais do ditador. A questão está sendo discutida com os familiares.

Além dos restos mortais de Castelo Branco, o Mausoléu também abriga os restos mortais da esposa, a ex-primeira-dama, Argentina Castelo Branco.

Castelo Branco morreu alguns meses depois de deixar o governo militar, em 1967, em um acidente aéreo.

Quem foi Dragão do Mar

Francisco José do Nascimento, conhecido como Dragão do Mar ou Chico da Matilde, nasceu no dia 15 de abril, de 1839, em Canoa Quebrada, Aracati. Chico um líder jangadeiro e abolicionista que teve participação destacada no Movimento Abolicionista no Ceará, estado pioneiro na luta pela abolição da escravidão no Brasil.

Liderados por Dragão do Mar, os jangadeiros do Ceará, a partir de 1881, se recusaram a transportar escravos para os navios negreiros que seriam vendidos para o Rio de Janeiro. Dessa maneira, o porto cearense foi considerado, pelo movimento abolicionista, fechado para o tráfico interprovincial.

Segundo informações do Centro Cultural Dragão do Mar, “antes e depois da greve que eternizou o Dragão do Mar, movimentos libertários como a ‘Sociedade Perseverança e Porvir’, a ‘Sociedade Cearense Libertadora’ e jornais como o Libertador se destacam pela luta contra a escravidão. Mas foi a firmeza do mulato jangadeiro Chico da Matilde que ultrapassou os limites da província e alcançou o Império, mostrando a força da resistência nordestina que consagrou o maior herói popular da história abolicionista do Ceará.

De acordo com pesquisa realizada pelo historiador Licínio Nunes de Miranda, cuja tese de doutorado é sobre Dragão do Mar, ele morreu em 1914, aos 75 anos. Em 2020, Nunes de Miranda encontrou o túmulo do abolicionista no cemitério São João Batista, no centro de Fortaleza.

A descoberta de Licínio Nunes de Miranda se deu após uma pesquisa que levantou mais de 15 mil lápides, que era desconhecida até então.