MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Brasil pode reduzir em 70% as emissões do setor de transportes até 2050, aponta estudo

Nova agenda climática propõe reequilíbrio da matriz logística, eletrificação da frota e ampliação de biocombustíveis para evitar colapso ambiental e logístico no país

Créditos: Xinhua - Estação Zhouliang de uma ferrovia que liga Pequim à Nova Área Binhai de Tianjin, em Tianjin, norte da China (26/2/22)
Escrito en BRASIL el

A poucos meses da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada neste ano em Belém (PA), a Coalizão dos Transportes apresentou um plano robusto para reduzir em até 290 milhões de toneladas de CO2e as emissões do setor de transportes até 2050.

Hoje, o setor é responsável por cerca de 11% das emissões brutas do país, com a matriz rodoviária respondendo por mais de 90% desse total.

A Coalizão dos Transportes é composta por mais de 50 entidades, incluindo a Motiva, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), a Confederação Nacional do Transporte (CNT), a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), o Observatório de Mobilidade do Insper, e muitos outros.

O desafio da concentração rodoviária

O Brasil transporta cerca de 70% das cargas e 90% dos passageiros por rodovias — realidade distinta de países como Estados Unidos (EUA) ou China, onde os modais ferroviário e aquaviário têm participação mais equilibrada. Como consequência, o país emitiu cerca de 260 MtCO2e em 2023, com projeções de aumento para 424 MtCO2e até 2050 em caso de inação.

Três vetores para descarbonizar

O estudo mapeia 90 alavancas de descarbonização, agrupadas em três frentes principais, responsáveis por cerca de 60% da redução potencial:

Mudança na matriz de transportes

  • Elevar a participação de ferrovias e hidrovias de 31% para 55% do transporte de cargas até 2050; e
  • Reduzir a dominância rodoviária para 46% da matriz.

Ampliação de biocombustíveis

  • Aumentar a produção e uso de etanol, biodiesel, diesel verde e biometano; e
  • Estima-se demanda adicional de +25 bilhões de litros até 2050.

Eletrificação e Power-to-X

  • Promover a transição para veículos elétricos e híbridos; e
  • Usar rotas de hidrogênio de baixo carbono para modais de difícil abatimento, como o aquaviário.
     

Impacto e metas

O cenário mais ambicioso prevê:

  • Redução de 280 MtCO2e no modo rodoviário até 2050;
  • Mais de 50% da frota leve eletrificada e cerca de 300 mil ônibus elétricos em circulação;
  • Adoção de combustíveis sintéticos por 15% das embarcações;
  • Consumo de 55 bilhões de litros de biocombustíveis em 2050 (vs. 30 bilhões em 2023); e
  • Demanda energética de 170 mil GWh/ano para recarga da nova frota elétrica.
     

Medidas viáveis e imediatas

Além das transformações estruturais, o estudo destaca medidas de curto prazo com alta viabilidade, como:

  • Melhoria da infraestrutura rodoviária e ferroviária;
  • Otimização de rotas e gestão portuária; e
  • Expansão do transporte coletivo urbano.
     

O papel do Estado e a visão de futuro

O relatório reforça que grande parte das mudanças dependerá do envolvimento direto do poder público, seja na regulação, seja no financiamento — especialmente para garantir transição justa e inclusão regional. Iniciativas como o Fundo Clima, o Programa MOVER e a RenovaBio são apontadas como essenciais.

Segundo o documento, com a adoção coordenada dessas medidas, o Brasil pode alcançar emissões líquidas zero no setor de transportes até 2050, consolidando sua posição como líder climático e referência em desenvolvimento sustentável.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar