A poucos meses da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada neste ano em Belém (PA), a Coalizão dos Transportes apresentou um plano robusto para reduzir em até 290 milhões de toneladas de CO2e as emissões do setor de transportes até 2050.
Hoje, o setor é responsável por cerca de 11% das emissões brutas do país, com a matriz rodoviária respondendo por mais de 90% desse total.
A Coalizão dos Transportes é composta por mais de 50 entidades, incluindo a Motiva, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), a Confederação Nacional do Transporte (CNT), a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), o Observatório de Mobilidade do Insper, e muitos outros.
O desafio da concentração rodoviária
O Brasil transporta cerca de 70% das cargas e 90% dos passageiros por rodovias — realidade distinta de países como Estados Unidos (EUA) ou China, onde os modais ferroviário e aquaviário têm participação mais equilibrada. Como consequência, o país emitiu cerca de 260 MtCO2e em 2023, com projeções de aumento para 424 MtCO2e até 2050 em caso de inação.
Três vetores para descarbonizar
O estudo mapeia 90 alavancas de descarbonização, agrupadas em três frentes principais, responsáveis por cerca de 60% da redução potencial:
Mudança na matriz de transportes
- Elevar a participação de ferrovias e hidrovias de 31% para 55% do transporte de cargas até 2050; e
- Reduzir a dominância rodoviária para 46% da matriz.
Ampliação de biocombustíveis
- Aumentar a produção e uso de etanol, biodiesel, diesel verde e biometano; e
- Estima-se demanda adicional de +25 bilhões de litros até 2050.
Eletrificação e Power-to-X
- Promover a transição para veículos elétricos e híbridos; e
- Usar rotas de hidrogênio de baixo carbono para modais de difícil abatimento, como o aquaviário.
Impacto e metas
O cenário mais ambicioso prevê:
- Redução de 280 MtCO2e no modo rodoviário até 2050;
- Mais de 50% da frota leve eletrificada e cerca de 300 mil ônibus elétricos em circulação;
- Adoção de combustíveis sintéticos por 15% das embarcações;
- Consumo de 55 bilhões de litros de biocombustíveis em 2050 (vs. 30 bilhões em 2023); e
- Demanda energética de 170 mil GWh/ano para recarga da nova frota elétrica.
Medidas viáveis e imediatas
Além das transformações estruturais, o estudo destaca medidas de curto prazo com alta viabilidade, como:
- Melhoria da infraestrutura rodoviária e ferroviária;
- Otimização de rotas e gestão portuária; e
- Expansão do transporte coletivo urbano.
O papel do Estado e a visão de futuro
O relatório reforça que grande parte das mudanças dependerá do envolvimento direto do poder público, seja na regulação, seja no financiamento — especialmente para garantir transição justa e inclusão regional. Iniciativas como o Fundo Clima, o Programa MOVER e a RenovaBio são apontadas como essenciais.
Segundo o documento, com a adoção coordenada dessas medidas, o Brasil pode alcançar emissões líquidas zero no setor de transportes até 2050, consolidando sua posição como líder climático e referência em desenvolvimento sustentável.