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Nos trilhos da soberania nacional: infraestrutura ferroviária amplia papel estratégico do país

Esquecidas por décadas, as ferrovias ressurgem como aposta de indústria verde e oportunidade de desenvolvimento

Créditos: Divulgação/Vale
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Mais de 92% do minério de ferro e quase metade de grãos exportados pelo Brasil são levados aos portos por meio das ferrovias, de acordo com dados de 2024 da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF). O setor, contudo, vai além: busca diversificar ainda mais o escoamento da malha ferroviária, que espera um boom de investimentos em poucos anos, principalmente devido aos possíveis investimentos chineses que chegam ao território nacional para acelerar ainda mais o segmento e centralizar o Brasil na Nova Rota da Seda.

O escoamento de minérios e grãos aos portos brasileiros

Em meio a um debate nacional sobre desenvolvimento sustentável e soberania logística, dados recentes do setor ferroviário indicam um avanço significativo na integração entre interior e portos. Mais de 92% do minério de ferro, 41% da soja e farelo de soja, e 49% do milho exportados pelo Brasil chegaram aos portos por meio das ferrovias em 2024.

Esses números revelam o papel estratégico da malha ferroviária no escoamento da produção nacional, sobretudo de commodities. Os principais destinos desse transporte são os portos de Santos (SP), Itaqui (MA), Tubarão (ES), Sepetiba (RJ) e São Francisco do Sul (SC), consolidando um eixo logístico que liga o centro do país às zonas costeiras de exportação.

Apesar de frequentemente invisibilizadas nas grandes pautas de infraestrutura, as ferrovias têm sido fundamentais para desafogar as rodovias, reduzir custos de transporte e, principalmente, diminuir as emissões de gases do efeito estufa, com uma matriz energética mais eficiente.

Novo ciclo de investimentos impulsionado pelo PAC 3 e a China

Depois de décadas de abandono e subinvestimento desde a década de 1950, o setor ferroviário brasileiro começou um novo ciclo a partir da privatização da malha, em 1996 e 1997. Mais de R$ 100 bilhões de investimentos privados ao longo dos últimos 25 anos foram responsáveis pela forte expansão do setor, que ganhou ainda maior tração em 2020, com o início dos processos de renovação antecipada dos contratos de concessão.

O lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento 3, conhecido popularmente como PAC 3 ou Novo PAC, anunciado em 2023 pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, passou a priorizar a infraestrutura sustentável e soberana como motor de desenvolvimento, o que beneficia ainda mais o transporte de cargas por trilhos.

Além dos aportes públicos, investidores privados passaram a apostar no setor, de olho em seu potencial de crescimento e eficiência energética. Mais recentemente, surgiram sinais de interesse da China em ampliar sua presença logística no país, com vistas à inclusão do Brasil na Nova Rota da Seda, projeto geoeconômico de alcance global promovido por Pequim.

Esses investimentos sino-brasileiros podem acelerar a diversificação da malha ferroviária, ampliando rotas, tecnologias e conectividade com outras regiões da América Latina.

Diversificar para integrar: o desafio da carga geral

Apesar dos avanços, o modelo ferroviário brasileiro ainda é altamente concentrado nas exportações do agronegócio e da mineração, um legado dos 28 anos de concessões privadas. Essa concentração limita o uso da malha para outras cadeias produtivas, mas abre espaço para uma diversificação maior de investimentos no setor, como a de cargas gerais (CG).

Diversificar os tipos de carga transportada é fundamental para garantir que a malha ferroviária beneficie toda a economia nacional, fortalecendo a logística interna, a soberania econômica e reduzindo a dependência de rodovias movidas a diesel.

Frequentemente ausentes dos grandes debates públicos, as ferrovias são, hoje, mais eficientes, seguras e sustentáveis. Com menor consumo de combustível por tonelada transportada e queda expressiva no número de acidentes, o modal ferroviário surge como alternativa viável à hegemonia rodoviária — e como pilar estratégico para um Brasil mais conectado, soberano e ambientalmente responsável.

Apesar da eficiência no escoamento de minérios e grãos, a malha ferroviária brasileira ainda enfrenta o desafio de ampliar o transporte de cargas gerais (produtos industrializados, insumos diversos e mercadorias de maior valor agregado). Em 2024, esse tipo de carga representou apenas 22% da produção ferroviária, muito abaixo da participação do minério de ferro (67%) – mas há oportunidade de investimento que, felizmente, o setor percebe e busca explorar.

Um dos principais termômetros desse segmento é o transporte de contêineres, que cresceu 31% em 2023, somando mais de 754 mil unidades transportadas. A expectativa é que, com os investimentos privados, do governo e até da China, o setor seja capaz de criar e expandir terminais ferroviários urbanos e regionais para interligar produção industrial e distribuição, assim como aumentar a capilaridade e integração com o setor rodoviário e hidroviário.

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