SAÚDE PÚBLICA

Inseto e pelo de rato: a lista com níveis de contaminantes tolerados pela Anvisa na sua comida

Presença de matérias estranhas em alimentos industrializados é mais comum do que parece; Fórum mostra o que diz lei sobre a contaminação e como aderir a uma alimentação mais saudável

Anvisa é responsável pela regulamentação de alimentos no Brasil.Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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A presença de contaminantes são comuns em alimentos industrializados e é tolerada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) — desde que não ultrapasse os limites considerados "seguros". São insetospelos de roedores, fragmentos de plástico, areiapartículas de moscas, parasitas microscópicos e até mesmo pelos humanos. É chocante, mas uma série de matérias estranhas — nome técnico dado a contaminantes físicos e biológicos — têm sua presença permitida em alimentos comercializados no Brasil.

Os limites e regras para essa tolerância estão detalhados na Resolução RDC nº 623, publicada pela Anvisa em 9 de março de 2022 e está em vigência desde o dia 1º de abril daquele ano. A nova regra revogou a anterior, divulgada em 2014 Acesse aqui

A Anvisa justifica que esses resíduos são tecnicamente inevitáveis "mesmo com a aplicação das melhores práticas disponíveis” — uma realidade da produção em larga escala. Essa não é uma exclusividade brasileira.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o Food and Drug Administration (FDA) também permite a presença de fragmentos de animais em alimentos industrializados, com limites semelhantes aos praticados pela Anvisa.

A fiscalização dos alimentos não segue uma periodicidade fixa. Em geral, as vigilâncias sanitárias estaduais e municipais coletam amostras e as enviam para laboratórios especializados. Se alguma irregularidade for identificada, o produto pode ser retirado do mercado, e a empresa responsável pode ser multada — com valores que variam de R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão — ou até ter suas atividades suspensas.

Esses fragmentos podem ser visíveis ou não. Em alguns casos, o corpo estranho é grande o suficiente para ser visto, como um pelo inteiro. Em outros, pode estar em partículas tão pequenas que só são detectadas com análise laboratorial.

O molho de tomate pode conter até 10 pedaços de insetos, como moscas e formigas, em 100 gramas do produto — além de permitir um fragmento de pelo de roedor nessa mesma porção. 

Outros alimentos também admitem contaminações. Em frutas secas, como uva passa, a Agência tolera um pelo de rato a cada 225 gramas; chás, até dois em 25 gramas; pimenta-do-reino moída, um pelo a cada 50 gramas; e achocolatados, um em cada 100 gramas.

A resolução afirma que alimentos infestados por artrópodes — como formigas, baratas e moscas —, pelos ou partes de ratos, excrementos de animais, fragmentos de vidro, metal ou plástico rígido, além de parasitas são todos elementos considerados matérias estranhas indicativas de risco à saúde humana. Além disso, estão fora do tolerável objetos pontiagudos ou rígidos com potencial de causar lesões, como pedaços de osso, pedras, lascas de madeira ou dentes.

O que pode estar no seu prato?

A resolução divide os contaminantes em três categorias:

  • Matérias estranhas inevitáveis, como pequenos fragmentos de insetos em farinhas e frutas secas.
  • Indicativos de risco à saúde, como excrementos de animais, fragmentos de vidro ou parasitas.
  • Indicativos de falhas das boas práticas, como cabelos, areia ou pedaços de insetos próprios da cultura agrícola.

De acordo com a tabela atualizada pela Anvisa, é permitido encontrar até:

  • 10 fragmentos de insetos em 100g de molho de tomate;
  • 25 fragmentos em 225g de uva passa;
  • 75 fragmentos em 50g de farinha de trigo;
  • 1 pelo de roedor em 100g de produtos com tomate enlatado;
  • E até 40% de campos microscópicos com filamentos de fungos em extrato de tomate.

Essas margens são baseadas em padrões internacionais e visam separar contaminações aceitáveis (inevitáveis) das que indicam falha nas "Boas Práticas" ou representam risco direto à saúde.

Veja um resumo na tabela:

Crédito: Elaborado por Revista Fórum

Ao final dessa matéria é possível acessar a lista completa com os níveis de contaminantes permitidos.

O que o consumidor pode fazer?

Embora o controle da presença desses contaminantes seja responsabilidade dos fabricantes e da fiscalização sanitária, o consumidor pode, se encontrar algo:

  • Observar a integridade das embalagens;
  • Ler os rótulos com atenção, especialmente a validade e os ingredientes;
  • Notificar à Vigilância Sanitária caso encontre corpos estranhos em produtos industrializados;
  • Preferir marcas que investem em transparência e boas práticas de produção.

E se for reprovado pela Anvisa?

Quando um lote de alimento não atende aos padrões da Vigilância Sanitária, a empresa é notificada e precisa recolher os produtos imediatamente. Se não cumprir essa exigência, a companhia poderá sofrer penalidades graves, como multas que vão de R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão, além do risco de ter suas atividades interditadas ou sua autorização de funcionamento cancelada.

O consumidor que comprou um produto contaminado ou impróprio tem o direito de pedir a substituição ou o reembolso. Para isso, deve entrar em contato com o atendimento ao cliente da marca ou, se necessário, procurar orientação jurídica.

As fiscalizações não seguem uma rotina definida: geralmente, as vigilâncias sanitárias locais realizam testes e, se identificam problemas, comunicam à Anvisa, que pode determinar a retirada do produto do mercado.

Opte por uma alimentação saudável, se puder

Em outras matérias publicadas aqui na Fórum, falamos sobre a importância dos alimentos orgânicos em detrimento dos ultraprocessados e industrializados, vendidos até mesmo como saudáveis pelo agro. Para se ter ideia, os agrotóxicos se tornaram substâncias mais comuns na alimentação da população brasileira nas últimas décadas. O país lidera o ranking de países que mais consomem o veneno desde 2021, quando bateu o recorde de 720.870 toneladas de agrotóxicos consumidos. É a naturalização de uma alimentação venenosa.

As substâncias estão presentes, principalmente, em frutas, legumes e verduras, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No entanto, os produtos ultraprocessados como biscoitos, salgadinhos, carnes, sucos e outros também apresentam a substância em sua composição.

Cercados pelos agrotóxicos, pesticidas, herbicidas e contaminantes toleráveis, como a população brasileira pode fazer para minimizar o contato com esses produtos e seus impactos na saúde? Veja algumas dicas abaixo.

Priorize alimentos orgânicos 

A primeira atitude é priorizar os alimentos orgânicos, principalmente aqueles oriundos da agricultura familiar. No cultivo desses alimentos, os agrotóxicos não são utilizados e os aliemntos não são processados em larga escala.

Compre alimentos da época

Outra dica é comprar os alimentos da época, que normalmente recebem menos pesticidas. 

Saiba a origem do alimento

Consuma alimentos que você sabe de onde vieram. A Anvisa recomenda que o consumidor opte por alimentos que tenham a identificação do produtor no rótulo, o que contribui para o comprometimento dos produtores em relação à qualidade dos alimentos.

Opte pelos alimentos da sua região

Os alimentos que percorrem longas distâncias normalmente são pulverizados pós-colheita e possuem um alto nível de contaminação por agrotóxicos

Higienize bem os alimentos

Lave os alimentos com água sanitária, de preferência a que apresenta  apenas hipoclorito de sódio em sua composição. O produto, porém, só é capaz de retirar os agrotóxicos que não penetraram no alimento, ou seja, estão na superfície. 

Frutas e legumes com maior concentração de agrotóxicos

Abaixo, listamos os alimentos in natura com as maiores concentrações de agrotóxicos, segundo o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos da Anvisa (PARA), que realizou a análise em 2019. Ainda de acordo com o programa,  23% das amostras ultrapassaram os elevados limites máximos de resíduos.

  • Pimentão - de 98 amostras com agrotóxicos, foram encontradas 82 com substâncias proibidos ou acima do limite
  • Goiaba - de 53 amostras com agrotóxicos, foram encontradas 42 com substâncias proibidos ou acima do limite
  • Cenoura - de 91 amostras com agrotóxicos, foram encontradas 40 com substâncias proibidos ou acima do limite
  • Tomate - de 88 amostras com agrotóxicos, foram encontradas 35 com substâncias proibidos ou acima do limite
  • Alface - de 63 amostras com agrotóxicos, foram encontradas 30 com substâncias proibidos ou acima do limite
  • Uva - de 63 amostras com agrotóxicos, foram encontradas 30 com substâncias proibidos ou acima do limite
  • Beterraba - de 34 amostras com agrotóxicos, foram encontradas 15 com substâncias proibidos ou acima do limite
  • Laranja - de 59 amostras com agrotóxicos, foram encontradas 14 com substâncias proibidos ou acima do limite
  • Abacaxi - de 54 amostras com agrotóxicos, foram encontradas 12 com substâncias proibidos ou acima do limite
  • Manga - de 39 amostras com agrotóxicos, foram encontradas 9 com substâncias proibidos ou acima do limite
  • Chuchu - de 14 amostras com agrotóxicos, foram encontradas 9 com substâncias proibidos ou acima do limite
  • Batata Doce - de 9 amostras com agrotóxicos, foram encontradas 9 com substâncias proibidos ou acima do limite
  • Alho - de 11 amostras com agrotóxicos, foram encontradas 5 com substâncias proibidos ou acima do limite
  • Arroz - de 33 amostras com agrotóxicos, foram encontradas 5 com substâncias proibidos ou acima do limite

Fontes: Instituto Nacional de Câncer (Inca); Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)

 

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